2/09/2005

Recife (parte 3)

Se existe uma marca no Carnaval de Olinda/Recife é o espírito de diversão. Como qualquer Carnaval que se preze a máxima é correr atrás da mais pura diversão, seja só acompanhando o Carnaval, seja dançando, seja seguindo os blocos, vendo os shows, se fantasiando. Repito mais uma vez é se permitir, porque em terras pernambucanas é permitido. Isso me lembra algumas coisas que dá para se observar no entrudo pernambucano. É impressionante como a forma como tratam o assunto de drogas na cidade não é hipócrita, a ponto de ter uma placa no carnaval recomendando que se for fumar maconha não dirigir depois, o mesmo no panfleto oficial distribuído pela prefeitura. Engraçado que ao mesmo tempo, há um conservadorismo em se tratando de opções sexuais. Ao ver dois rapazes se beijando, um policial se aproximou e mandou que parassem de se beijar, que se quisessem fizessem aquilo em um lugar escondido.

No domingo, no Rec Beat, quem abriu a festa, ainda no fim da tarde, foi o bloco Quanta Ladeira, uma junção de artistas renomados locais e alguns nacionais que brincam através de paródias de músicas conhecidas, desde sucessos nacionais até hits do carnaval pernambucano. Estavam lá Lenine, Lula Queiroga, Silvério Pessoa e vários outros esculhambando todo mundo presidente, ministro, governador, o prefeito (que estava presente), artistas e meio mundo de gente, inclusive eles mesmo.

Cantavam coisas como “Deixa o boeing me levar/ boeing leva eu (+2X)/ são vocês que pagam a conta, mas o avião é meu”, em ritmo de Zeca Pagodinho. “Você diz que lula bebe/ lula bebe sim sinhô/ também nessa porra quem não bebe/ não dá nem pra ser vereador.”, em ritmo de marchinha. "Pra comer seu cú falta uma polegada", brincando com "Meu Maracatu pesa uma tonelada" da Nação Zumbi e por ai a fora. Aquele tipo de brincadeira sem graça atése fora do espírito do Carnaval, mas tudo a ver com a festa.

O domingo seguiu com o grupo Samba de Véio apresentando seu samba de roda tradicional e de alta qualidade, com uma multidão (50 pessoas) em cima do palco. Já com um público maior o La Pupunã do Pará botou todo mundo para dançar ao som de carimbó e guitarradas, ritmos típicos da terra deles e que agrada a quase todo mundo. Praticamente todo instrumental, a banda ainda misturou carimbó com surf music, muito massa. O rock-pop da Ludov agradou aos fãs, mas eu continuo a achar a banda sem muita graça.

O Mombojó era sem dúvida o show mais esperado da noite. Em ritmo de Carnaval, a banda entrou toda fantasiada. O som de início não ajudou, mas aos poucos eles foram tomando conta da situação e botando todomundo para cantar e dançar as belas composições do grupo, além de covers perfeitos para ocasião "Aurora", de Mário Lago e "Balança o Saco", aquele clássico: "balança o saco, balança o saco, balança o saco de confete e serpentina/ eu vou cair de língua, eu vou cair de língua, eu vou cair de língua num sorvete de limão/ tá todo mundo dando, tá todo mundo dando, tá todo mundo dando volta e meia no salão". Num dos melhores shows do festival, terminaram o show mais que consagrados cantando "Esse é o reino da Alegria". Quem duvida?

Muitos reclamaram que Otto não era o nome ideal para fechar uma noite de Rec Beat. Pode até não ser, mas o cara é bom, e agora mais plantado (claro, que para o que ele já fez em cima do palco) desfilou uma série de suas belas composições. Com uma banda de primeira, liderada por Ganjman do Instituto, o show foi concentrado nos dois primeiros discos do bicho-que-pula. E Otto é um compositor de mão cheia, suas boas canções ganham mais vida com as bem dosadas intervenções eletrônicas e a alta carga percussiva. Otto é talvez o responsável por uam nova música brasileira, foi ele quem fundou um estilo de fazer músicas herdeiras de ciranda, samba e coco, inserindo a eletrônica nisso sem parecer água e óleo. Algumas dessas músicas já vem se tornando verdadeiros clássicos, como "Bob" e "O Celular de Naná" do primeiro disco "Samba pra Burro". E foi com essas canções que fez um belo show, dando grande destaque a parte percussiva. Emocionado, não parou de lembrar como é bela sua cidade, sua cultura. Tem toda razão.

Olinda
Além do Rec-Beat, um outro festival reunia bandas com tranbalhos mais contemporâneos. Era o Cena Musical.Br, que acontecia pela segunda vez em Olinda, dessa vez reunindo alguns grupos de outros estados além dos locais. A desorganização inicial fez com que perdesse bons shows, além de eu não ter ido tanto em Olinda ocmo em outros anos. O grande problema do festival esse ano foi o lugar. Ano passado acontecia na praça da Preguiça, que além de ser mais ampla e agradável tinha um gramado que atraia, você sentava, deitava, descansava e ouvia uma série de bons shows.

Como o lugar não era tão agradável esse ano - além de ser mais paertado, ficava num lugar não tão legal - Varadouro - o festival atraiu um público menor. Só consegui na segunda-feira ver dois shows. Azougue era até interessante com mistura de samba, rock, eletrônica e outros lances. A banda seguinte, que graças a deus eu não lembro o nome, era ruim demais e só me estimulou mesmo a ir embora. Os blocos de rua de Olinda são muito mais interessantes.

A segunda-feira não era tão atraente pra mim. Queria ver o grupo Del Rey, que misturava o Mombojó com China tocando covers de Roberto Carlos, vi o final do show e é muito bom. Não tinha como não ser já que só tocam clássicos do rei Roberto Carlos, com o público cantando junto lindamente. O resto da noite não me atraia tanto, já que tinha visto há pouco o show de Black Alien, que não consegue transportar para o palco a qualidade de seu disco, e Lula Queiroga, que sinceramente não me convence. Acho mais pretensão do que qualidade e a música é uma MPB inferior ao que já foi feito pelos mestres do gênero.

Nem Cordel do Fogo Encantado eu fazia muita questão. Gosto deles, mas já vi vários desse show que eles têm apresentado e cansou. Ma sé engano, Cordel em Recife é sempre um acontecimento. Fizeram mais um daqueles shows fantásticos. Apoteótico para o maior público já registrado em um Rec Beat. Mais de 30 mil pessoas cantando e orando freneticamente. Os caras são monstruosos no palco.

Recife tem sim, o Carnaval mais diversificado. Enquanto rolava o Rec Beat na segunda, o palco do Marco Zero recebia altas doses de samba da melhor qualidade. Uma banda local abria a festa, no aguardo de duas divas do samba. Dona Ivone Lara, no alto de seus mais de 80 anos, não permitiu ninguém ficar quieto. Clássico atrás de clássico e alguns dos sambas mais fabuloso já feitos, com direito a uma sequência de sambas enredo na época que sabiam fazer isso. Muito bom, pena que fui ver outros shows e perdi Beth Carvalho, que pelo que soube foi fantástico também.

Na terça:
O Samba de Côco Raízes de Arcoverde tocou ano passado no Rec Beat,no festivalde Olinda, tinha se apresentado já no Porto Musical e sempre, sempre, conquista a todos. É um misto de uma inocência com sentimento, de vontade de mostrar sua música e valorização do que são, sem se preocupar se é antigo, folclórico, novo, "muderno", é simplesmente o que eles vivem e dá para sacar isso com o grupo em cima do palco. É mágico. Côco na música e nos pés, e nos seus tamancos de madeira, a simpatia, o carisma e a qualidade do grupo conquistam. O ritmo, a beleza e a simplicidade das músicas são de uma riqueza enorme, sem precisar de um olhar antropológico, de pesquisador, é música boa, alegre, rica e cheia de sentimento. O disco deles pela primeira vez está tendo distribuição nacional e vendendo horrores. No final do show, foram tocar atrás do palco e venderam todos os discos que tinham em questão de minutos.

Se Otto meio que inventou uma música brasileira moderna, é também de Pernambuco um dos melhores nomes surgidos ultimamente na música nacional. Junio Barreto ainda é muito desconhecido, talvez permaneça desconhecido, mas cometeu um dos melhores discos de 2004 e tem um show de altíssimo nível. Com uma voz grave, um jeito tímido de cantar e uma banda afiadíssima dando sustento a suas composições, fez um show excepecional, irretocável. Suas canções trazem um pouco de muita coisa de boa música feita no Brasil, tudo com um primoroso trabalho rítmico e bem dosados enxertos de eletrônica. Perfeita a bela versão de "A Mesma Rosa Amarela", do mestre do carnaval pernambucano Capiba e Carlos Pena Filho. "Você tem quase tudo dela/ O mesmo perfume, a mesma cor, a mesma rosa amarela/ Só não tem o meu amor./ Mas nestes dias de Carnaval/ pra mim você vai ser ela/ o mesmo perfume, a mesma cor, a mesma rosa amarela.../ Mas não sei o que será/ Quando chegar a lembrança dela/ E de você apenas restar/ a mesma rosa amarela, a mesma rosa amarela". Um lindo momento em meio ao Carnaval.

O Bonsucesso Samba Clube deixou a eletrônica de lado e assumiu um lado mais rítmico, com a percussão ganhando espaço. No palco agradam mais assim, com as músicas ganhando corpo e obtendo um resultado muito interessante da junção de dub, reggae e samba. Se houve algum erro no Rec Beat em 2005 foi a presença do grupo de Marcelo Yuka, F.U.R.T.O.. Foi constrangedor. Apesar de uma boa banda, o resultado é pífio, com um vocalista tentando lançar palavras de alta dose sócio-político, mas sem convencer. Se fosse só isso, menos mal. O som da banda pareceainda estar em formação, como se faltasse ainda muita coisa para adquirir uma sonoridade interessante. Muito fraco. Quem fechou o festival foi a quase unanimidade local, o cantor Lenine. Infelizmente, ele ainda consegue agradar a muita gente. Felizmente, para muitos e uma farsa que já estpa caindo. Farsa porque ele é apenas um cantor razoável e um compositor que deu sorte de ser descoberto na época do Mangue, porque não há nada de especial no trabalho dele. Evidente que não dá para desqualificar e dizer que é um trabalho ruim. Não é. Mas para o tanto que falamo e exaltam, é injustiça. Paciência.

Para fechar o Rec Beat,a cada dia djs se apresentavam na tenda eletrônica até de manhã cedo. E se ouviu de tudo, house, mangue beat, dance, tecno, misturas em geral, num espaço que lotava e reunia principalmente um público jovem e de classes mais baixas, numa demonstração de democracia cultural. Claro que a lotação contribuia para os roubos e brigas que rolavam no lugar, mas sem tirar o brilho da festa. A sensação do Carnaval de Recife/ Olinda é que todos se divertem de verdade, basta estar disposto. Há músicas de todos os estilos convivendo. Se ouve de tudo, se diverte com tudo, sem preconceito e como eles sempre fazem questão de ressaltar, sem cordas, sem cordão de isolamento, sem farda, sem preconceito. É por ai. A prefeitura de Recife pode ser questinada até, mas é visívelcomo o carnavalé plural e como eles adotam no slogan, Multicultural. Crianças, jovens, velhos, adultos, mulheres, homens, ricos, negros, porbres, brancos, turistas e locais se misturam,sem se saber direito quem é quem. Todo mundo com a missão de se divertir, claro que enfrentando alguns problemas, porque não dá para ser perfeito e acho até que perderia a graça. Bate uma inveja saudável de como perdemos isso em Salvador.

Ai eu lembrei do que havia lido sobre o Carnaval de Salvador no jornal A Tarde naquele dia:
"Apesar de atrair tanta gente famosa, o Cortejo Afro não conseguiu um único patrocinador. Qual a explicação? "A explicação é que esse é um bloco afro", responde o músico Arto Lindsay, um dos maiores entusiastas do Cortejo. "Nossa luta pela sobrevivência não é diferente da luta que Muzenza, Malê Debalê e até mesmo o Olodum travam todos os anos. O próprio Ilê Ayiê só vive um momento de prosperidade agora, depois de 30 anos de estrada".

2/08/2005

Recife (parte 2) O melhor Carnaval do Brasil
Andando pelas ruas do Recife Antigo ouço os maracatus tocados por gente da terra, pobres e ricos. Turistas deslumbrados dançam. Ando mais um pouco e o palco é do frevo, um ritmo totalmente pernambucano. Uma banda de rock de São Paulo toca em outro palco. Comento que queria dançar um forrozinho. Sento numa roda de amigos, uns de Fortaleza, outros de Pernambuco, amigos do Rio passam, outros da Paraíba e um monte de Sergipe. De repente, atrás de mim, uma banda de pífanos, do nada, começa a tocar Luiz Gonzaga realizando meu pedido. Vou para o palco principal e um desfile de clássicos do samba da maior qualidade. Sento num bar e os clientes escolhem no jukebox instalado músicas diversas, que vão de Lionel Ritchie e Raul Seixas ao chamado Technobrega pernambucano, parente próximo do Arrocha e do mundo brega que se alastra pelo Norte-Nordeste. Resolvo ir na tenda eletrônica, onde dá para dançar muito eletro misturado com New Order. Melhor ir para casa, amanhã tem Olinda e já são seis da manhã.
É mais ou menos a experiência diária do Carnaval em Recife, que começou oficialmente na sexta-feira com Naná Vasconcelos e com um daqueles encontros memoráveis. Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, as duas bandas inteiras no palco. Dois baixos, duas baterias, quatro percussionistas, um teclado Fred 04 e seu cavaquinho cantando ao lado de Jorge Du Peixe. Um desfile de clássicos do Mangue Beat, principalmente do disco que apresentou o "movimento" para o Brasil e o mundo, "Da Lama ao Caos". O imenso público pôde ver um show com músicas dos discos da Mundo Livre sem grandes novidades, mas muito bom como sempre. Os clássicos da época de Chico Science foram os mais incensados, alguns com aprensetados com releituras. Realmente, como alguns reclamaram, não havia nada de novo no repertório, mas serviu como um bela homenagem aos dez anos de Mangue Beat, com duas das melores bandas dos últimos anos no Brasil. Ah! teve ainda cover de Jorge Ben, "O Homem da Gravata Florida" (só para uma amiga morer de inveja).

Foi só a abertura do Carnaval, que você só sente mesmo andando nas ruas e cruzando com os blocos. Sábado é dia de Galo da Madrugada, o tal maior bloco do mundo, que reúne metade da cidade, ou pelo menos aparenta isso. Bom, que Olinda fica mais tranquila. Um bloco de frevo passa arrastando tudo e todos, "Vassourinha" se alastra e se compreende porque só se ouve ela nas transmissões do Carnava olindense. É claro que não se toca só essa música, pelo contrário, o que não faltam são hinos locais, mas esse específico serve como um festim para explodir a massa. É como se ela representasse toda a alegria, a vontade de se divertir, o respeito a cultura local daquelas pessoas, tudo numa música só. Olinda é para quem está disposto a encarar muita gente, mas sem grandes confusões, só algum aperto e felicidade saindo pelos poros. Gente que sai de casa fantasiada, cheia de roupa, mesmo com um calor assombroso. A idéia é se permitir, se entregar à diversão e esquecer tudo memso. Lembrar só na quarta-feira de cinzas mesmo e olhe lá.

Rec Beat
Dentre tudo o que acontece durante o Carnaval pernambucano, o Rec Beat merece um destaque a parte. O festival coloca um tempero a mais no reino da alegria que é Recife, dando um ar mais contemporâneo à festa sem tirar ou desvalorizar as tradições. Serve como um up grade agradando os mais jovens e oferecendo uma diversidade aind amaior ao pluralismo de Recife.
Na primeira noite (sábado) já dava para sentir que mais uma vez o festival (assim como no ano passado realizado no Cais da Alfândega) seria marcante. Quem abriu o evento foi o Afoxé Oxum Pandá, remetendo aos sons negros de Salvador, com direito a música "É D´Oxum" de Gerônimo e numa mistura de música afro brasileira e salsa cubana. Massa. Foi o pop da Rádio de Outono, no entanto, que mostrou logo de cara que Recife não para de se reinventar. Tudo bem, o som da banda não é a primazia em originalidade, mas é bom, criativo, bem tocado e pronto para tocar nas rádios, se essas se dessem ao trabalho de escutar algo fora de grandes gravadoras. Muito bom ver como a banda se comportou bem num palco maior, com um som melhor e um grande público. A vocalista Bárbara nem se fez de roagada, se soltou desde o início, dando seus gritos e cantando muito bem. Imaginei que naquela estrutura a ausência de uma guitarra fosse ser sentida, mas não, teclado, baixo e bateria deram conta de criar um com incorpado e de primeira. Já podem tocar fácil em qualquer festival do país. Estão prontos, é aguardar o CD que sai no começo do outono.

Negroove era desconhecido até dos pernambucanos. Eu conhecia uma música que havia baixado no Trama Virtual. Funk e samba feito por brancos. Eu deixaria um pé atrás, imaginando um monte de porcaria que já saiu dessa junção. Mas apesar de não ser nada de outro mundo, a banda manda bem, com o balanço do samba dando as rédeas. Eu gostei. A atração seguinte foi o ex-Sheik Tosado China, enquanto ele não deslanchar a carreira solo vai continuar sendo o ex-Sheik Tosado (que também nem foi tão longe assim). O cara tem boa postura no palco, canta bem, mas falta algo. As músicas são até boas, mas continua faltando algo. Talvez a sonoridade soe muito parecido com o de outras pessoas, que façam melhor, não sei. O show dá até pra se divertir e dançar. Daria uma nota 7, mas nem ostei da cover do Stooges.

Assim como em 2001, no meu primeiro carnaval em Recife, o Rec Beat este ano recebeu uma lenda do rock. Se naquele ano eram os internacionais do Mudhoney, este ano foi uum dos maiores representantes do punk nacional que está voltando aos palcos pelo Brasil, o Replicantes. Não tem como não de cara falar de Wander Wdilner, o cara é foda como band leader, em cima do palco, cantando. Chama toda sas atenções com suas performances, seus comentários e sua dedicação à música. As tradicionais rodas de pogo se abriram com a presença das figuras mais hilárias do punk recifense (se havia moicanos para todos os lados). Clássico atrás de clássico, músicas novas, overdose de rock da melhor qualidade com direito a cover de Ramones e versão de "Killing Moon", do Echo & the Bunnymen.

A Faces do Subúrbio é quase religião para quem gosta de rap na cidade. Admito que não tive muita paciência para o show, mas sei da qualidade do grupo, que acaba de lançar um álbum novo.

continua...

2/05/2005

Recife (parte 1)

Porto Musical - Um evento que você circula e encontra figuras como Carlos Eduardo Miranda (Trama), Fabrício Nobre (Monstro), Messias GB (brincando de deus), Fred 04 (Mundo Livre S/A), Silvio (Tratore), Rodrigo Lariú (midsummer madness), diversos artistas de Recife (Mombojó, Lula Queiroga, Parafusa, Nando Cordel e MUITOS outros), Pena Schimidt (ABMI), Mabuse (Re:Combo), Gilberto Monte (tara_code), chama a atenção.
Agora imagine esse povo todo, somado a pesquisadores, técnicos, doutores em música e tecnologia, discutindo os rumos do mundo da música. Foram três dias de alta dose de novas possibilidades viáveis para a música, sem presença física ou espiritual das grandes gravadoras. Eu cada vez me perguto mais: Quem precisa delas?
Música por celular, arquivos digitalizados de música, venda online de catálogos, novas possibilidade de negócios via internet, comercialização de músicas, fim dos direitos autorais, novos tipos de direitos, selos independentes, novas possibilidades para a música e a mídia, fim dos intermediários. Temas sem fim, muito bem abordados por gente de gabarito do Brasil e de fora.
O Porto Musical, como seu organizador Paulo André falou, cria uma possibilidade há 2 mil quilômetros do tal eixo Rio- São Paulo de se discutir e pensar nos caminhos que podemos dar a música. Qual o futuro da música? Não se sabe, mas é diferente do hoje.

Shows - Evidente que num evento que tem música como foco principal, tem que se ouvir música. E, sem precisar pensar muito, não tem como não reconhecer Recife como a capital musical do Brasil hoje (tá, podem discordar, azar de vocês). Então dá-lhe misturas. Não, aqui não soa óleo e água rock com maracatu, coco com música eletrônica. E não é necessariamente um artista misturando sons, mas numa mesma noite Recife é um dos poucos lugares que as pessoas se permitem isso.
Raízes do Coco de Arcoverde é um grupo da cidade de Arcoverde (mesma do Cordel do Fogo Encantado). Eles apresentam a música em que vivem. Nasceram e cresceram ouvindo, tocando e cantando aquilo, sem precisar forçar a barra para tornar aquele ritmo uma sinfonia saída da alma. É bonito de se ver, de se dançar e para emocionar. Não é porque é "música de raiz" (quem tem raiz é árvore). É porque é sincero, bonito e bem feito.
Logo em seguida um grupo do Rio de Janeiro, Domenico + 2. Para quem não sabe eles são fruto de um projeto que começou com Moreno + 2 e vai frutificar ainda com o Kassim + 2. Os três formam a base do conjunto, mas mais dois músicos colaboram com a empreitada. Tinha ouvido em mp3 e achado legal, mas ao vivo funciona que é uma beleza. Samba, rock, jazz, eletrônica e sei lá mais o que reunidos numa salada criativa como pouco se vê por ai. Muito bom. Terminando a primeira noite, o grupo francês Mei Tei Sho mostrou um bom trabalho com referências e influências de jazz, afrobeat e dub, mas um pouco cansativo.
Tenho que destacar, enquanto me lembro, os efeitos visuais criados pelo pessoal do Re:Combo durante os shows, muita coisa sendo feita na hora, ao vivo. Do caralho.
O evento teve ainda apresentações de Maciel Salu e o Terno do Terreiro, Helder Vasconcelos e o grupo colombiano Imaimaná, Chico Correia e Eletronic Band (com uma excelente mistura de eletrônica e música brasileira), Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, os paraibanos da Cabruêra e djs encerrando as noites.
Deixei propositadamente pro final o destaque de duas das coisas mais interessantes.
A apresentação do coletivo Re:Combo que juntou 22 pessoas (vinte e duas mesmo) em cima do palco. Três fazendo programação, três guitarrista, um baixista, uns quatro ou cinco vocalistas e o resto fazendo percussão, performances e tudo mais. O resultado, é verdade, foi irregular, com momentos meio chatos e desinteressantes, mas outros de intensa criatividade. Improvisação coletiva do capeta. MUITO BOM.
O dia mais cheio estav alotado de gente querendo ver Manu Chao. O cantor baixinho apresentou seus sucessos e mostrou mai suma vez o domínio de palco que tem. O cara é bom e como disse meses atrás, ele tem qu etocar num trio elétrico durante o Carnaval de Salvador, alguém tem que bancar isso urgente. Mas a surpresa foi a banda que tocou com Chao, a também francesa La Phaze. Três carinhas eufóricos. Um tocando guitarra e tropete, outro dançando, cantando e fazendo programação e um dj fazendo baderna com batias insanas. Jungle com rock, eletrônica barulhenta, o que for, a mistura deu muito certo. Dançante, vigoroso e do caralho, vou baixar o disco urgentemente.

Recife queima
Mal fecha a cortina do Porto Musical, as possibilidades na cidade continuam. Na verdade, durante a convenção de discussão de música e tecnologia, paralelamente começou outro evento. O Pré-Amp, organizado por um grupo de artistas locais que vem se mobilizando. Este ano aconteceu a segunda edição do evento, que levou para os palcos da Rua da Moeda (tudo isso rola no Recife Antigo) bandas como Volver, Via Sat, Devotos, A Roda, Mula Manca e a Triste Figura, Astronautas, The Playboys, Êta Carina e várias outras. Só assisti o bom show dos Astronautas, com participação massa da MQN (quase certo eles no Abril Pro Rock, anotem), e o excepcional show da Devotos. Ah se toda banda metida a punk fizesse metade do show desses caras, Cru, direto, forte. Pancada da boa e com o que dizer. Muito foda.


E como dizia a cidade não pára. A quinta-feira rendeu um momento já histórico. Um pequeno e tradicional bar rocker local, o Garage, recebeu uma multidão para ver e ouvir Wander Wildner tacar uma série de hits cantado aos prantos. Fodaço. O cara nem quis saber se o lugar era muito pequeno, se o público tava se esbarrando nele, se o som era toscão, mandou clássicos numa madrugada quente e chuvosa. "Lugar do Caralho", "Eu não consigo ser Alegre o Tempo Inteiro", "Bebendo Vinho", "Empregada", "Refrões", "Eu Queria Morar em Beverly Hills". Daqueles shows inesquecíveis.

E o carnaval nem começou até aqui



2/02/2005


Prêmio Rock Independente Bahia 2004

Com o intuito de movimentar a cena e dar visibilidade do que de melhor tem sido feito no rock baiano, o Prêmio Rock Independente Bahia, promovido pelos sites Bahia Rock, Claque, Discoteca Narcisista e El Cabong, elege mais uma vez os melhores do ano do cenário rock independente baiano.

Para a segunda edição, que vai eleger os melhores de 2004, foi feita uma pré-seleção dos indicados através da consulta a personalidades importantes envolvidas com o meio. O júri contou com a participação de Pitty, Jan Balanco (Frangote Records), Jean Claude Wolpert (Calypso), Franchico (Rock Loco), Jéssica Senra (Punkada Rock), Leonardo Leão (Drearylands), Gilberto Monte (produtor), Fabiano (Estopim), Nardele Gomes (Curto Circuito), Leonardo Maia (Discoteca Narcisista), Gilmar Dantas (produtor), Rogério Big Brother (Bigbross Records), Sora Maia (fotógrafa e locutora do Rock Loco), Tiago Moura (Curto Circuito), Greice Schneider (Claque), Ramon Prates (Bahia Rock), Gabriela R. Almeida (Egolatria), Luciano Matos (El Cabong). Foi proibido atribuir o voto a si próprio e os que o fizeram tiveram esses votos anulados. Cada membro desse júri escolheu até cinco nomes por categoria. Os cinco mais votados de cada categoria aparece para votação aberta do público, que pode participar pela internet ou nas urnas espalhadas pelas lojas e pelos shows.

O critério de escolha dos jurados foi a representatividade e participação na cena. Foram enviados e-mails para jornalistas, produtores e formadores de opinião dos mais diversos segmentos da cena e aqueles que responderam até a data estipulada tiveram seus votos computados.

O Prêmio que homenageou ano passado Pitty, esse ano é dedicado a Emerson Borel, ex-guitarrista de várias bandas de Salvador, inclusive a antológica Úteros em Fúria, que faleceu em 2004. O resultado do Prêmio será divulgado em março.

Entre no site e vote: http://premiorockba.v10.com.br