Recife (parte 2) O melhor Carnaval do Brasil
Andando pelas ruas do Recife Antigo ouço os maracatus tocados por gente da terra, pobres e ricos. Turistas deslumbrados dançam. Ando mais um pouco e o palco é do frevo, um ritmo totalmente pernambucano. Uma banda de rock de São Paulo toca em outro palco. Comento que queria dançar um forrozinho. Sento numa roda de amigos, uns de Fortaleza, outros de Pernambuco, amigos do Rio passam, outros da Paraíba e um monte de Sergipe. De repente, atrás de mim, uma banda de pífanos, do nada, começa a tocar Luiz Gonzaga realizando meu pedido. Vou para o palco principal e um desfile de clássicos do samba da maior qualidade. Sento num bar e os clientes escolhem no jukebox instalado músicas diversas, que vão de Lionel Ritchie e Raul Seixas ao chamado Technobrega pernambucano, parente próximo do Arrocha e do mundo brega que se alastra pelo Norte-Nordeste. Resolvo ir na tenda eletrônica, onde dá para dançar muito eletro misturado com New Order. Melhor ir para casa, amanhã tem Olinda e já são seis da manhã.
É mais ou menos a experiência diária do Carnaval em Recife, que começou oficialmente na sexta-feira com Naná Vasconcelos e com um daqueles encontros memoráveis. Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, as duas bandas inteiras no palco. Dois baixos, duas baterias, quatro percussionistas, um teclado Fred 04 e seu cavaquinho cantando ao lado de Jorge Du Peixe. Um desfile de clássicos do Mangue Beat, principalmente do disco que apresentou o "movimento" para o Brasil e o mundo, "Da Lama ao Caos". O imenso público pôde ver um show com músicas dos discos da Mundo Livre sem grandes novidades, mas muito bom como sempre. Os clássicos da época de Chico Science foram os mais incensados, alguns com aprensetados com releituras. Realmente, como alguns reclamaram, não havia nada de novo no repertório, mas serviu como um bela homenagem aos dez anos de Mangue Beat, com duas das melores bandas dos últimos anos no Brasil. Ah! teve ainda cover de Jorge Ben, "O Homem da Gravata Florida" (só para uma amiga morer de inveja).
Foi só a abertura do Carnaval, que você só sente mesmo andando nas ruas e cruzando com os blocos. Sábado é dia de Galo da Madrugada, o tal maior bloco do mundo, que reúne metade da cidade, ou pelo menos aparenta isso. Bom, que Olinda fica mais tranquila. Um bloco de frevo passa arrastando tudo e todos, "Vassourinha" se alastra e se compreende porque só se ouve ela nas transmissões do Carnava olindense. É claro que não se toca só essa música, pelo contrário, o que não faltam são hinos locais, mas esse específico serve como um festim para explodir a massa. É como se ela representasse toda a alegria, a vontade de se divertir, o respeito a cultura local daquelas pessoas, tudo numa música só. Olinda é para quem está disposto a encarar muita gente, mas sem grandes confusões, só algum aperto e felicidade saindo pelos poros. Gente que sai de casa fantasiada, cheia de roupa, mesmo com um calor assombroso. A idéia é se permitir, se entregar à diversão e esquecer tudo memso. Lembrar só na quarta-feira de cinzas mesmo e olhe lá.
Rec Beat
Dentre tudo o que acontece durante o Carnaval pernambucano, o Rec Beat merece um destaque a parte. O festival coloca um tempero a mais no reino da alegria que é Recife, dando um ar mais contemporâneo à festa sem tirar ou desvalorizar as tradições. Serve como um up grade agradando os mais jovens e oferecendo uma diversidade aind amaior ao pluralismo de Recife.
Na primeira noite (sábado) já dava para sentir que mais uma vez o festival (assim como no ano passado realizado no Cais da Alfândega) seria marcante. Quem abriu o evento foi o Afoxé Oxum Pandá, remetendo aos sons negros de Salvador, com direito a música "É D´Oxum" de Gerônimo e numa mistura de música afro brasileira e salsa cubana. Massa. Foi o pop da Rádio de Outono, no entanto, que mostrou logo de cara que Recife não para de se reinventar. Tudo bem, o som da banda não é a primazia em originalidade, mas é bom, criativo, bem tocado e pronto para tocar nas rádios, se essas se dessem ao trabalho de escutar algo fora de grandes gravadoras. Muito bom ver como a banda se comportou bem num palco maior, com um som melhor e um grande público. A vocalista Bárbara nem se fez de roagada, se soltou desde o início, dando seus gritos e cantando muito bem. Imaginei que naquela estrutura a ausência de uma guitarra fosse ser sentida, mas não, teclado, baixo e bateria deram conta de criar um com incorpado e de primeira. Já podem tocar fácil em qualquer festival do país. Estão prontos, é aguardar o CD que sai no começo do outono.
Negroove era desconhecido até dos pernambucanos. Eu conhecia uma música que havia baixado no Trama Virtual. Funk e samba feito por brancos. Eu deixaria um pé atrás, imaginando um monte de porcaria que já saiu dessa junção. Mas apesar de não ser nada de outro mundo, a banda manda bem, com o balanço do samba dando as rédeas. Eu gostei. A atração seguinte foi o ex-Sheik Tosado China, enquanto ele não deslanchar a carreira solo vai continuar sendo o ex-Sheik Tosado (que também nem foi tão longe assim). O cara tem boa postura no palco, canta bem, mas falta algo. As músicas são até boas, mas continua faltando algo. Talvez a sonoridade soe muito parecido com o de outras pessoas, que façam melhor, não sei. O show dá até pra se divertir e dançar. Daria uma nota 7, mas nem ostei da cover do Stooges.
Assim como em 2001, no meu primeiro carnaval em Recife, o Rec Beat este ano recebeu uma lenda do rock. Se naquele ano eram os internacionais do Mudhoney, este ano foi uum dos maiores representantes do punk nacional que está voltando aos palcos pelo Brasil, o Replicantes. Não tem como não de cara falar de Wander Wdilner, o cara é foda como band leader, em cima do palco, cantando. Chama toda sas atenções com suas performances, seus comentários e sua dedicação à música. As tradicionais rodas de pogo se abriram com a presença das figuras mais hilárias do punk recifense (se havia moicanos para todos os lados). Clássico atrás de clássico, músicas novas, overdose de rock da melhor qualidade com direito a cover de Ramones e versão de "Killing Moon", do Echo & the Bunnymen.
A Faces do Subúrbio é quase religião para quem gosta de rap na cidade. Admito que não tive muita paciência para o show, mas sei da qualidade do grupo, que acaba de lançar um álbum novo.
continua...
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