2/05/2005

Recife (parte 1)

Porto Musical - Um evento que você circula e encontra figuras como Carlos Eduardo Miranda (Trama), Fabrício Nobre (Monstro), Messias GB (brincando de deus), Fred 04 (Mundo Livre S/A), Silvio (Tratore), Rodrigo Lariú (midsummer madness), diversos artistas de Recife (Mombojó, Lula Queiroga, Parafusa, Nando Cordel e MUITOS outros), Pena Schimidt (ABMI), Mabuse (Re:Combo), Gilberto Monte (tara_code), chama a atenção.
Agora imagine esse povo todo, somado a pesquisadores, técnicos, doutores em música e tecnologia, discutindo os rumos do mundo da música. Foram três dias de alta dose de novas possibilidades viáveis para a música, sem presença física ou espiritual das grandes gravadoras. Eu cada vez me perguto mais: Quem precisa delas?
Música por celular, arquivos digitalizados de música, venda online de catálogos, novas possibilidade de negócios via internet, comercialização de músicas, fim dos direitos autorais, novos tipos de direitos, selos independentes, novas possibilidades para a música e a mídia, fim dos intermediários. Temas sem fim, muito bem abordados por gente de gabarito do Brasil e de fora.
O Porto Musical, como seu organizador Paulo André falou, cria uma possibilidade há 2 mil quilômetros do tal eixo Rio- São Paulo de se discutir e pensar nos caminhos que podemos dar a música. Qual o futuro da música? Não se sabe, mas é diferente do hoje.

Shows - Evidente que num evento que tem música como foco principal, tem que se ouvir música. E, sem precisar pensar muito, não tem como não reconhecer Recife como a capital musical do Brasil hoje (tá, podem discordar, azar de vocês). Então dá-lhe misturas. Não, aqui não soa óleo e água rock com maracatu, coco com música eletrônica. E não é necessariamente um artista misturando sons, mas numa mesma noite Recife é um dos poucos lugares que as pessoas se permitem isso.
Raízes do Coco de Arcoverde é um grupo da cidade de Arcoverde (mesma do Cordel do Fogo Encantado). Eles apresentam a música em que vivem. Nasceram e cresceram ouvindo, tocando e cantando aquilo, sem precisar forçar a barra para tornar aquele ritmo uma sinfonia saída da alma. É bonito de se ver, de se dançar e para emocionar. Não é porque é "música de raiz" (quem tem raiz é árvore). É porque é sincero, bonito e bem feito.
Logo em seguida um grupo do Rio de Janeiro, Domenico + 2. Para quem não sabe eles são fruto de um projeto que começou com Moreno + 2 e vai frutificar ainda com o Kassim + 2. Os três formam a base do conjunto, mas mais dois músicos colaboram com a empreitada. Tinha ouvido em mp3 e achado legal, mas ao vivo funciona que é uma beleza. Samba, rock, jazz, eletrônica e sei lá mais o que reunidos numa salada criativa como pouco se vê por ai. Muito bom. Terminando a primeira noite, o grupo francês Mei Tei Sho mostrou um bom trabalho com referências e influências de jazz, afrobeat e dub, mas um pouco cansativo.
Tenho que destacar, enquanto me lembro, os efeitos visuais criados pelo pessoal do Re:Combo durante os shows, muita coisa sendo feita na hora, ao vivo. Do caralho.
O evento teve ainda apresentações de Maciel Salu e o Terno do Terreiro, Helder Vasconcelos e o grupo colombiano Imaimaná, Chico Correia e Eletronic Band (com uma excelente mistura de eletrônica e música brasileira), Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, os paraibanos da Cabruêra e djs encerrando as noites.
Deixei propositadamente pro final o destaque de duas das coisas mais interessantes.
A apresentação do coletivo Re:Combo que juntou 22 pessoas (vinte e duas mesmo) em cima do palco. Três fazendo programação, três guitarrista, um baixista, uns quatro ou cinco vocalistas e o resto fazendo percussão, performances e tudo mais. O resultado, é verdade, foi irregular, com momentos meio chatos e desinteressantes, mas outros de intensa criatividade. Improvisação coletiva do capeta. MUITO BOM.
O dia mais cheio estav alotado de gente querendo ver Manu Chao. O cantor baixinho apresentou seus sucessos e mostrou mai suma vez o domínio de palco que tem. O cara é bom e como disse meses atrás, ele tem qu etocar num trio elétrico durante o Carnaval de Salvador, alguém tem que bancar isso urgente. Mas a surpresa foi a banda que tocou com Chao, a também francesa La Phaze. Três carinhas eufóricos. Um tocando guitarra e tropete, outro dançando, cantando e fazendo programação e um dj fazendo baderna com batias insanas. Jungle com rock, eletrônica barulhenta, o que for, a mistura deu muito certo. Dançante, vigoroso e do caralho, vou baixar o disco urgentemente.

Recife queima
Mal fecha a cortina do Porto Musical, as possibilidades na cidade continuam. Na verdade, durante a convenção de discussão de música e tecnologia, paralelamente começou outro evento. O Pré-Amp, organizado por um grupo de artistas locais que vem se mobilizando. Este ano aconteceu a segunda edição do evento, que levou para os palcos da Rua da Moeda (tudo isso rola no Recife Antigo) bandas como Volver, Via Sat, Devotos, A Roda, Mula Manca e a Triste Figura, Astronautas, The Playboys, Êta Carina e várias outras. Só assisti o bom show dos Astronautas, com participação massa da MQN (quase certo eles no Abril Pro Rock, anotem), e o excepcional show da Devotos. Ah se toda banda metida a punk fizesse metade do show desses caras, Cru, direto, forte. Pancada da boa e com o que dizer. Muito foda.


E como dizia a cidade não pára. A quinta-feira rendeu um momento já histórico. Um pequeno e tradicional bar rocker local, o Garage, recebeu uma multidão para ver e ouvir Wander Wildner tacar uma série de hits cantado aos prantos. Fodaço. O cara nem quis saber se o lugar era muito pequeno, se o público tava se esbarrando nele, se o som era toscão, mandou clássicos numa madrugada quente e chuvosa. "Lugar do Caralho", "Eu não consigo ser Alegre o Tempo Inteiro", "Bebendo Vinho", "Empregada", "Refrões", "Eu Queria Morar em Beverly Hills". Daqueles shows inesquecíveis.

E o carnaval nem começou até aqui