4/26/2006

Briga grosseira

Quem mora no Nordeste ou é nordestino quando vai ao Sul Maravilha sente claramente o preconceito que existe contra baianos, pernambucanos, paraibanos, alagoanos e nordestinos e nortistas em geral. É, aliás, o mesmo preconceito que atinge motoqueiros, gente que mora em morros e favelas, trabalhadores em geral... É algo que Chico Buarque falou numa entrevista recente. Tenta-se generalizar por pura ignorância e preconceito. Muito culpa da violência e de uma paranóia em torno dela. Cada vez mais o "povo do asfalto", quem ganha mais de mil reais por mês, quem tem seu bom salário, seu carro, se isola, quer distância do resto, do tal povo. Por isso junta tudo num mesmo saco. Bandido mora na favela, logo quem mora a favela é bandido. Trabalhador que mora na favela logo é tratado como bandido. Motoqueiro trabalhador, favela = bandido. Pobre, trabalhador, nordestino, favelado = bandido. Uma lógica louca que se transforma num mundo esquizofrênico de preconceito, generalização e paranóia.
O contrário também é real. Uma auto-defesa contra esse posicionamento preconceituoso transforma tudo que não é povo em o outro, o explorador, o precoceituoso. São dois mundos que nem são distantes, mas que se colocam como tal. A velha luta de classes. A venha sanha em ser preconceituoso ou se sentir discriminado. Da mesma forma que a visão deturpada transforma nordestino em preguiçoso, trabalhador em bandido, o contrário transforma qualquer crítica, qualquer visão mais realista em preconceito. É o lado inverso da moeda. Um complexo de perseguição, uma posição de que ninguém pode escancarar uma realidade na cara. Uma proteção que as vezes ecoa mais preconceituosa do que quem acusa. Uma proteção do preconceito que se revela um complexo em qualquer comentário sincero sobre sua realidade.
Vem acontecendo um linchamento público na internet há alguns dias. Uma atitude covarde. Acredito que ninguém aguenta mais nossa imprensa, burra, mesquinha, cega, egoísta, preconceituosa e cínica. O ideal, no entanto, é saber diferenciar o joio do trigo, a velha máxima que nos obriga a prestar atenção no que se diz, no que se lê, em como se escreve e como se lê.
Uma briga de colossos tem sido travada na grande mídia entre um jornalista global e um pseudo intelectual da revista de maior circulação do país. Não dá para acreditar em nenhum dos dois, talvez os dois se enlamem em sua briga. É preciso mais do que acusações para sujar um homem, mas quando isso é feito com o aval e com um espaço que atinge milhões é perigoso. Mas será que há punição para quem escreve o que quer nesse país?
Briga de cachorro grande. Bem diferente de outra travada, principalmente, no Orkut. O jornalista Alexandre Matias, homem de bom caráter e desprovido do preconceito que habita as mentes de boa parte de colegas seus jornalistas. Pelo menos do preconceito que vem sendo acusado. Em um texto sincero sobre Maceió fala do atraso que a cidade vive, revelada por parte de seus próprios moradores. Sinceridade que foi sentida por muitos dos alagoanos. Irritados, raivosos, se rebelaram contra o jornalista de forma grosseira e rude. Isso não revela nada mais sobre Maceió ou Alagoas. É uma reação que vem se tornando comum. Todos acham que tem voz e podem falar o que quer. Sem precisar ler ou entender como devem, preferem encaixar no discurso do complexo e reagir.
Pressionado, Alexandre Matias mudeou seu texto, tirou a introdução em que falava da cidade e se ateve apenas ao Festival que foi cobrir.
Mais do que se concentrar em ataques pessoais ao jornalista e exigir até a demissão dele, essas pessoas deveriam pensar que vivemos sim desigualdades. Salvador, Recife e Maceió são cidade que sofrem por uma pobreza secular. São Paulo e Rio de Janeiro também. Vivemos todos diante de mazelas semelhantes. Desigualdades. Podridões. O trauma de ser discriminado não dá razão a ataques covardes a um homem que assume suas opiniões. Não inventa realidades e não as diz com desprezo. Discordar é um direito, é importanta, inclusive. Mas partir para agressão, para o linchamento é um sinal de complexo, de falta de argumento e de covardia. Queria me solidarizar com o colega Alexandre Matias, sem um pingo de corporativismo, até porque, acho que boa parte dos jornalistas tem merecido o desprezo. O diálogo é sempre o melhor passo para a compreensão.

Leia o que Alexandre Matias escreveu no Trama Virtual
E a reação grosseira nos scraps dele

E a retratação dele, com alteração na parte introdutória do texto

12 Comments:

At 1:40 PM, Anonymous Anônimo said...

Exagero...Claro que a proposta de Alexandre não foi fazer uma análise sobre a cidade...Ele colocou, como em uma crônica, o seu olhar...
E os argumentos usados pelos "protestantes" tb são exagerados.
Maceió é uma cidade linda e desenvolvida, quem conhece sabe que é... então pra que a preocupação com "sujar a imagem para os turistas"...
Achei um exagero.

 
At 3:40 PM, Anonymous Anônimo said...

Desenvolvida coisa nenhuma! Eu sou de lá e afirmo e reafirmo o contrário. E digo mais, existem podres problemas culturais em Alagoas como um todo. Mas quer saber, não se deve dar atenção a comentário em orkuts ou em blogs (como esse aqui), onde se pode muito bem esconder-se sob anonimato. Reações como vemos aí é sinal da má educação e ignorância a que estamos acostumados no Brasil. Podemos até dar voz a qualquer um, mas ouvidos, só a quem se mostrar com o mínimo de educação e bom-senso.

Carlos Barreto

 
At 3:49 PM, Blogger mov. nac. de busca e apoi a pessoas desaparecidas said...

alagoas tem uma orla linda, mas comece a andar pelas ruas detrás. maior pobreza, mendicância...

 
At 6:18 PM, Anonymous Anônimo said...

é aquela coisa: eu tenho que concordar e discordar ao mesmo tempo. o texto dele é bom, mas ele foi extremamente infeliz ao falar que alagoas só tinha "djavan e hermeto paschoal", e a lembrança infeliz de Collor e PC Farias. muuuuito infeliz, diga-se de passagem. não se iludam, se alguém viesse aqui pra bahia e falassem que a bahia era terra de ivete sangalo e carlinhos brown, de acm e do dono da propeg (a outra briguinha do momento), o povo daqui ia cair em cima. até eu, que considero salvador uma grande fachada. já fui em maceió, é uma cidade lindíssima nas fachadas. assim como salvador, assim como são paulo, assim como o rio de janeiro. aliás, até curitiba, que todos tem um discurso de "a europa brasileira", tem seus pontos horrorosos, como muitos já me disseram. isso é normal, estamos no brasil. isso tudo eu concordo com ele, e aliás, são convicções que eu levo pra mim e ninguém tira. mas que ele foi infeliz demais nesses pontos, isso não se pode negar!

 
At 6:50 PM, Anonymous Anônimo said...

A gente não pode negar que ACM é coisa nossa, assim como Collor (que quase ganhou a eleição pra governador lá) é coisa de alagoano.

Assim como Maluf é coisa de paulista, Garotinho coisa de carioca e Severino coisa de pernambucano.

Podres todos nós temos, e a gente merece ACM tanto quanto os paulistas merecem Malufs, Paloccis e por aí vai...

E que bom que Alagoas tem Hermeto, que vale mais do que todos esses juntos que eu mencionei por aí...

Carlos

 
At 12:27 PM, Anonymous Anônimo said...

Concordo com Carlos... não pode e nem deve negar! Ao invés de cair em cima, pode-se, educadamente, travar um discussão e mostrar, com argumentos convincentes (e não xigamentos grosseiros), que nem todo baiano é Carlista...
Falo que Maceió é desenvolvida pq as pessoas colocaram como se Alexandre estivesse tratando Maceió como "uma cidade de chão batido"...e não foi isso que ele quis dizer...pelo que entendi.

 
At 2:01 PM, Anonymous Anônimo said...

em maceió - a cidade,e não pessoas brilhantes que lá nasceram e saíram pro mundo - existe há bastante tempo um apartheid social engenhoso e açucarado, se me entendem.
De uma hora para outra deixou de existir?

 
At 5:15 PM, Anonymous Anônimo said...

Que mané apartheid! Lá existe o mesmo problema que a maioria das cidades (e me arrisco a dizer, todas as grandes cidades) brasileiras apresenta.

A gente começa a usar palavras indevidas e um veneno começa a escorrer. Não existe apartheid, deixe esse termo para uma história vergonhosa, de outro lugar.

Ainda mais quando se fala em "engenhoso" e "açucarado", como se fosse orquestrado por um poderoso satã que esfrega as mãos malevolamente.

Não, não te entendo, castelo. Seja claro se quiser ser levado à sério.

O que existiu aqui foi um texto infeliz de um jornalista que se mostrou preconceituoso e leviano. Baixou o santo no cara (ou será de caráter?) e ele se sentiu o tal, só por morar, ou ser, do sudeste.

Grandes bostas.

Carlos

 
At 5:31 PM, Anonymous Anônimo said...

o texto é uma merda, muito mal escrito, uma tentativa fracassda de crônica que só tem ofensas mesmo. incapacidade.

 
At 10:35 PM, Anonymous Anônimo said...

Hello all Nice page elcabong.blogspot.com! Thank you!
hydrocodone
http://www11.asphost4free.com/tramadolrx/Tramadol.html tramadol tramadol

 
At 11:47 AM, Anonymous Anônimo said...

Hello all Good page www.blogger.com! Thank you!
tramadol
cheap tramadol incest stories ivana fukalot
http://videosall.vidiac.com
http://ivanafukalot.forum-on.de
http://incest.forum-on.de

 
At 10:12 PM, Anonymous Anônimo said...

Yes if the truth be known, in some moments I can bruit about that I agree with you, but you may be in the light of other options.
to the article there is still a without question as you did in the go over like a lead balloon a fall in love with efflux of this beg www.google.com/ie?as_q=cerberus ftp server 2.41 ?
I noticed the catch-phrase you have in the offing not used. Or you profit by the black methods of promotion of the resource. I possess a week and do necheg

 

Postar um comentário

<< Home