8/29/2005

Só internet salva

Há ainda quem duvide, mas a Internet é mesmo um caminho concreto no mundo da música, diversificado e bem mais democrático. O selo Mudernage de Natal, por exemplo, criou uma rádio online que divulga bandas e festivais do Nordeste, incluindo baianas, como Retrofoguetes e Brinde. Com uma programação semanal e atualização às quartas-feiras, a rádio já tem mais de oito mil acessos. Para ouvir, acesse o site www.mudernage.com.br/radio.html. É muito boa.

Outra proposta interessante é da revista MP3 Magazine (www.mp3magazine.com.br), que está chegando este mês a sua oitava edição. Nela, pode-se conhecer trabalhos de diversos artistas do circuito independente brasileiro. O mais interessante é que não são apenas algumas músicas e sim álbuns completos e entrevistas com os artistas. Na edição atual estão disponibilizados discos da banda piauiense Lado 2 Estéreo [que toca em Salvador em dezembro], a paulista Fuga e os cariocas da Fósforo 147. Nesta edição o alagoano Wado também entrou, mas a gravadora dele não autorizou que as músicas fossem liberadas para download e tiveram que tirar do ar. Pena já que o cara tem um dos trabalhos mais interessantes do país. Mas, demos um jeito e descolamos um endereço, baixe o último disco aqui.


Do que se trata a foto ao lado? The Beatles??? Não tá escrito errado não, é Beastles mesmo, de Beatles + Beastie Boys. Na verdade é o disco "Tripper Trouble", resultado de um projeto do dj BC que tem circulado na internet. A proposta vai naquela onda de misturar músicas de artistas diferentes, nesse caso as duas grandes bandas citadas.
Esse projeto é na verdade um dos diversos do mesmo tipo que tem circulado pela internet. Lembra de "Smells like Booty" (Nirvana vs. Destiny's Child) ou "A Stroke of Genius" (The Strokes vs. Christina Aguilera) uns meses atrás? e o "Grey Album", que trazia uma mistura do "White Album" dos Beatles com o "Black Album" de Jay-Z? Procurando pelos programas P2P dá pra encotrar outras coisas como Prodigy vs. Beck, Radiohead vs. Beatles, Madonna vs. Sex Pistols, Ramones vs. Beastie Boys ou Joy Division vs. Missi Elliot, entre outros. Você pode fazer a busca digitando nos tais programas palavras como "mash up", "go home productions", "2 many djs".


E a possibilidade de se conseguir discos piratas, gravações de shows, lados b, covers e shows acústicos? Um site muito interessante é o gringo Sabadabada que traz discos brasileiros raros e completos. Coisas de Bossa Nova, disco do Quarteto Novo, trilhas sonoras, grupos desconehcidos e por ai vai.

Festival online
Outra novidade é o primeiro festival online realizado no Brasil. O “Oi Tem Peixe na Rede”, como o nome diz, é realizado por uma companhia de telefonia celular e tem como proposta abrir espaço para novos talentos. Com inscrições gratuitas, mas com um regulamento que merece ser lido com muito cuidado para evitar surpresas, o festival não tem restrições a gêneros musicais e somente aceitará música inéditas. A escolha dos vencedores será feita por votos na Internet e por uma comissão julgadora. O artista ou banda ganhador será contratado pela gravadora Sony-BMG para gravar e lançar um álbum e um videoclipe. Mais informações no site www.oitempeixenarede.com.br.

8/27/2005

Discos fantásticos que fizeram minha cabeça essa semana:

Frank Jorge - "Carteira Nacional de Apaixonado"
Esse gaúcho, que integrou a clássica Graforréia Xilarmômica, poderia não fazer mais nada que já mereceria um lugar ao lado dos maiores criadores de belas canções da música brasileira. Com um jeito bem particular de compor, misturando diversos elementos, e com letras que passam da mais alta simplicidade e um humor próprio, Frank Jorge cometeu um pequeno clássico. Esse disco é pra melhorar a semana de qualquer mortal.


Otto - "Sem Gravidade"

Odiado por alguns, amado por outros, o pernambucano fez no último disco um belo trabalho de canções, amor e criatividade. Pense na palavra beleza e esqueça se você gosta de ouvir música que cabe em rótulo, seja rock, eletrônica ou MPB.

Jesus & Mary Chain - "Stoned & Dethroned"
Vou ouvir essa banda até o restante de minha vida e sempre vou me emocionar com as canções que este sdois irmãos fizeram. Este disco nem é tão falado, mas é uma obra prima. Um passeio de carro por estradas desertas, você lembrando de seus amores e cantando alto, emocionado, como se fosse a última coisa que fosse fazer na vida.

Mombojó - "Nadadenovo"
Falem o que quiser, mas não é todo dia que surgem garotos com gosto amplo e fazendo uma música sem amarras, sem se preoupar em que prateleira vão estar. Só a vontade de fazer músicas belas, seja pra ouvir olhando o sol se pôr, seja para dançar, seja para mandar tudo á merda.

8/17/2005

Recife: a terra indie

Festival No Ar Coquetel Molotov coloca Recife no mapa do indie rock com série de shows que misturaram noise de guitarras e experimentações

Mais uma vez a cidade do Recife acerta na mosca com um festival bem feito, interessante e que entra definitivamente no calendário nacional independente. A segunda edição do “No Ar Coquetel Molotov” tem um foco mais indie - nada de mistura de regional com rock - mais espaço para noise de guitarras, experimentalismos, bandas gringas e um público mais segmentado. Interessante também que o festival foi realizado num enorme teatro, o Teatro da UFPE. Uma mostra de vídeoclipes e curtas-metragens e uma pequena feira de cds, zines, revistas e roupas serviram de aperitivo para as 14 bandas que tocaram nos dois dias de festival do último fim de semana.

Entre os grupos, o grande destaque foi o duo francês Berg Sans Nipple. Era como se a dupla tivesse ido no futuro e voltado para mostrar como será a música que iremos ouvir lá na frente. Shane “Sans Nipple”, originário de Nebraska, EUA, é o sensacional baterista que toca de forma magistral seu instrumento ao mesmo tempo que tira sons de escaletas, beats eletrônicos e instrumentos percussivos. Enquanto isso, o francês Lori Sean “Berg” brincava com loops, beats, sinos, texturas, bases pré-gravadas e tirava uma sonoridade alienígena de teclados, samples e de um aparato tecnológico que nem parecia suficiente para produzir tanto.

Impossível não se render as variações criadas pela dupla, uma música acapachante que rendeu um dos melhores momentos que a música vai assistir no país este ano. Impossível também definir em rótulos a música produzida por eles. É como se pegassem o estoque de influências da música pop ocidental, um pouco da oriental, batessem no liquidificador e soltasse pelos poros se utilizando dos recursos que possuíam e do domínio da tecnologia. O resultado é uma música estranha, própria e absurdamente envolvente. O Berg Sans Nipple já valeria por si só a realização do festival, difícil colocar o restante dos grupos ao lado, tudo acabou soando repetitivo e ultrapassado.

Mas é exagero, houveram outros bons shows sim. Os paulistas do Hurtmold funcionaram perfeitamente no esquema todo mundo sentado, mesmo que em alguns momentos servindo de trilha-sonora para embalar os mais sonolentos. O grupo se envereda por um mundo anti-pop de sutilezas, detalhes e excelentes músicos se revezando entre guitarras, baixo, percussão, bateria, xilofone, teclado, clarinete, entre outros. O resultado é uma sonoridade de ricas texturas, num experimentalismo instrumental, que trafega pelo jazz, pelo post-rock, mas também de difícil definição.

Sem novidades
O público em sua maior parte parece que gostou da dupla inglesa The Kills, mas a sensação era mesmo que o hype é maior que a encomenda. Com uma bateria eletrônica como base, Jamie Lince (Hotel) é o responsável pelas guitarras e parte dos vocais. Alison Mosshart (VV) utiliza seu charme feminino para uma performance quase sexy, cantando sobre relacionamentos num estilo que lembrava P.J. Harvey. O som é rock básico e cru. A sensação é que o grupo tem sua qualidade, cria bons momentos, especialmente quando VV assume outra guitarra, mas o falatório é maior do que merecem.

Outro grupo bastante aguardado eram os suecos do Dungen. Visual retrô a la Led Zeppellin e um som que também remetia ao passado, com ecos dos anos 70. Gustav Ejstes é o líder do grupo, além de cantar toca flauta e teclado, acompanhado de uma banda de responsa. Bom show, correto e competente, mas que não consegue adentrar o cmapo dos shows inesquecíveis.

A Mombojó decidiu que em casa pode arriscar e mostrar as músicas do novo disco. Foi o que fizeram, dedicando quase 90% do show as composições mais novas, quase sempre numa levada mais lenta, mostrando os rumos do álbum que deve sair no começo de 2006. Show morno, que poderia ter sido melhor se equilibrassem mais com os sucessos do primeiro trabalho.

De Pernambuco, um dos destaque foi o show e a clara evolução do Mellotrons. Criada há oito anos, a banda ainda traz forte influência de guitar bands como My Blood Valentine e Sonic Youth, com os tradicionais paredes de guitarra. Mas é quando cantam em português e mostram outras influências que mostram maior personalidade.

O festival foi também ninho de música altamente pop. Do caramelado sem guitarras da Rádio de Outono, que desfilou seu repertório meio anos 50, com direito a cover de Ronnie Von e palhaço no palco. Mais low-profile, com duas guitarras, um teclado, xilofone e uma doçura impressionante, a recifense Lulina mostrou parte de sua enomre produção. Com sete discos caseiros e mais de cem músicas compostas, a garota de 26 anos parece uma menina no palco cantando despretensiosamente e ás vezes desafinada doces e simples melodias. Um som low-fi folk pop com clima cor-de-rosa, bolinha de sabão e prisilha no cabelo. Muito bom.

Shows-case
Num caminho parecido com o Hurtmold, mas se utilizando de ferramentas tecnológicas, um dos integrantes dos próprio grupo paulista, o multi-instrumentista M. Takara, mostrou em um dos shows-case que abria o festival no palco menor um trabalho de ambientações sonoras, minimalismo e criatividade. Trumpete, percussão, uma brincadeira com texturas, timbres e beats e em certo momento parecia que os alemães do Krafwerk se encontraram em um candomblé.

Nos shows pré-palco principal destaque também para o grupo pernambucano Profiterolis, que provoca reações de ame ou deixe no público rocker. A razão é simples, nada de obviedade indie. Criam uma musicalidade que caminha de mãos dadas com a MPB, com o rock servindo de suporte. Entre violões, teclados, percussão e, claro, guitarra-rock-bateria, um encontro de Mutantes, Sérgio Sampaio, da banda local Eddie, letras bem sacadas e um toque de ousadia.

Mas na sala que recebia os shows-case, houve espaço também para cabecismos e masturbações musicais, como no caso do 3 Ets Records, uma enganação, em cima de bases pré-gravadas e uma “performance” de três marionetes alienígenas. Outro exemplo foi o grupo Os Embuás, um amontoado de músicos produzindo sons abstratos, que só não dá para afirmar que qualquer um faria porque não dá para avaliar até onde vai a coragem de passar ridículo das pessoas. Um show sem propósito, que conseguiu provocar reações apelando para gritos de dor de um pequeno porco, o mais sensato da história. Aquele tipo de som que os integrantes do grupo vão adorar ver uma crítica negativa só para dizer que não foram compreendidos.

8/16/2005

NATAL CELEBRA OS INDEPENDENTES

Existe um universo paralelo na música que nem todo mundo conhece. Assim mesmo o público é enorme e os festivais pelo Brasil vem comprovando. São os principais espaços para a música alternativa aparecer. E se Salvador ainda carece de um destes eventos, Natal (sim, a capital do Rio Grande do Norte) já desponta com o segundo. No começo do mês, dias 6 e 7, aconteceu o Festival do Sol, em Natal [sim, a capital do Rio Grande do Norte], com cerca de quatro mil pessoas pagando para ver 27 bandas das mais diversas tendências do rock brasileiro. Do pop escancarado ao hardcore tosco, do indie rock cantado em inglês à MPB experimental.

Em dois palcos, desfilaram bandas ainda sem muita novidade, boas surpresas e shows marcantes como o dos novatos e locais Os Bonnies, garotos que visitam os anos 50 e 60 com um rockabilly de alto nível e aos berros proclama: "it´s only rock´n´roll, baby, e é pura diversão".


E se falam de diversão, garantia de satisfação é com a Retrofoguetes. Foram unanimidade, com imprensa e público colocando o show dos baianos entre os três melhores do evento. O trio, que provocou as primeiras rodas de pogo, vai se tornando especialista em agitar as massas por onde passa com sua mistura de surf music, trilha de desenho animado e música folclórica do leste europeu.

Os pernambucanos da Mombojó não fizeram por menos e com sua excelente junção de MPB, rock, samba, eletrônica e até brega colocaram o público no bolso na primeira noite. Levaram com maestria a sonoridade do álbum “Nadedenovo”, algumas músicas novas e uma versão de “Baby Doll de Nylon” [Robertinho do Recife/Caetano Veloso]. O excelente show foi sem dúvida um dos melhores do evento.

Os paulistas da Gram tocaram com o público ganho. Um desfile de belas melodias e influência do Brit Pop. Já conhecidos com hits como “Você Pode na Janela” e “Sonho Bom”, mostraram versões de “Across the Universe” [Beatles] e “Dias de Luta” [Ira].

Barulheira dos inferno

Na segunda noite, o Matanza (RJ) deu um coice de rock´n´roll sujo malvado e bêbado. O country-core e o universo de faroeste do grupo mostra como se aproveitar do hardcore e ser criativo com ele. Rodas de pogo, moshs e delírio geral dos cerca de dois mil garotos que babavam por rock no local.

Mas se houve algo violento e rápido foi o rolo compressor do Mukeka di Rato, do Espírito Santo. Se vivem falando em porrada nos ouvidos, aqui sim. Um esporro jorrado de guitarra, baixo e bateria. Hardcore sem firulas ou disfarce. Quanto mais o som acelerava mais roda de pogo crescia e se agitava. Por alguns minutos, Natal era a sucursal do inferno na Terra.

O indie-rock nordestino esteve presente em três frentes de estados diferentes. Vindo de Fortaleza, o Fóssil causou estranheza para quem não estava acostumado a ouvir músicas instrumentais de cerca de dez minutos. Excelente sonoridade post-rock, extraída de guitarras e pedais, num grande apresentação.

A Snooze (SE), desfalcada de um guitarrista, fez um show aquém do costumeiro, mas as boas melodias e guitarras estavam lá. O melhor momento da apresentação foi quando convidaram a banda Bugs [local, mas ausente do festival] para uma cover do The Who.

A tríade se fecha com a autêntica guitar band sem baixo dos pernambucanos da Vamoz, num show destoante na noite hardcore, mas de qualidade irretocável.

A potiguar Experiência Ápyus ainda varia momentos inspirados e outros nem tantos, mas se propõe a fazer um trabalho interessante, focado em violões e com uma presença de samba e MPB aliado a postura rocker. Outra atração local que mostrou qualidade foi o guitarrista Edu Gómez, um músico de alto nível que talvez apenas não combine sua música virtuosa com um festival deste tipo.

Mais do mesmo

Uma série de bandas medianas figuraram no festival, não fazendo feio, mas também não somando tanto. Caso da carioca Polar, que fez um show morno, com canções românticas, mas sem tanta inspiração.

Os locais do Uskaravelho, Peixe Coco, Allface e Officina (banda que fez o último show de sua história de mais de seis anos) também mostraram qualidades, com shows corretos, apesar de alguns defeitos no som (um problema em alguns shows), mas ainda precisam se desvincular das influências que norteiam seus trabalhos, ganhar mais personalidade e arriscar. Impressionante é como o público conhecia boa parte das músicas e cantava junto. Isso graças ás rádios locais, que vêm dando espaço para a produção independente local.

Na segunda noite, o Projeto 50, da Paraíba, mostrou um criativo trabalho com hardcore, não se contentando com os clichês e se aproveitando de outros elementos do rock para fazer um bom show. Mas nem todos conseguem fugir das fórmulas. Pelo contrário, em alguns momentos, parecia que era uma mesma banda que apenas trocava de palco.

Batidas frenéticas, guitarras sujas, letras de amor sem muita inspiração foram a tônica da segunda noite. Do esforçado, mas muito pouco criativo, Zero8Quatro, de Natal; passando pelos cearenses do Switch Stance e chegando nos paranaenses do Sugarkane.

A impressão é que todos passaram pela mesma escola de como se fazer shows para agitar a moçada, mas que no fundo é bastante repetitivo e chato. Os mesmos temas, a mesma postura de palco e até música com nome igual. O Hardcore melódico talvez seja hoje o gênero musical que mais consegue unir o publico jovem em lugares diferentes do Brasil. Uma pena.

Também de Natal, o grupo Jane Fonda assumiu uma nova postura. Mais pesado, mas sem largar mão da veia pop, fizeram um bom show, agradando bastante a platéia que cantou junto todas as músicas. Pena que a proposta de reunir, peso, berros e letra sensíveis não faça a mínima diferença.

Além dos dois palcos, um outro, localizado no bar Do Sol, dava início às atividades do festival com grupos iniciantes. Destaque para a banda Revolver, mais um grupo de garotos saudosos de momenots que nem viveram, encarnando bem os sons dos anos 60. Boa aposta.

O impressionante em um festival como esse, é a oportunidade de reunir em um só lugar bandas e todo um ambiente direcionado para a música independente. Além dos shows, stands de selos, mostra de fanzines e um encontro da turma do Nordeste Independente que vem promovendo o mercado alternativo pela região. Tudo isso num evento muito bem organizado, com sucesso de público e tratamento digno a todos os envolvidos. Longa vida ao Do Sol.