11/30/2004

Pare para pensar. Como era Salvador há oito anos atrás?

1996. Pela primeira vez a cidade elegia um candidato ligado ao grupo de ACM para prefeito da cidade. O Brasil acelerava a retomada de seu cinema, mas na Bahia a produção cinematográfica continuava nula. A chamada axé music dominava completamente todos os espaços, chegando a colocar 20/ 25 mil pessoas semanalmente em seus shows. Não sobrava espaço e oportunidades para artistas de outros estilos, apesar da existência de vários nomes de qualidade. O futuro era incerto e não havia grandes perspectivas.

Oito anos depois, mesmo muita gente não aceitando ou não querendo acreditar, os tempos são outros. Longe do que deveria ser, mas o tempo de atraso que Salvador e a Bahia vive, começa a ser recuperado. Salvador voltou a eleger um prefeito anti-carlista, colocou para secretários nomes de origens diversas, respeitados em suas ocupações anteriores. Agora olhe o último fim de semana. Compare com oito anos atrás. Teríamos um grande show no Espanhol. Cheiro de Amor e não sei quem. Asa de Águia e outra porcaria qualquer.

Sexta-feira passada, aconteceu mais uma vez o ensaio dos Mascarados. Bloco de Carnaval? É, eles ainda tem sua força. Mas o comando fica por conta de Margareth Menezes, que pode até não agradar radicais e fãs de rock, por exemplo, mas é sem dúvida um agrado aos ouvidos, por fornecer a seus espectadores uma boa coleção de hits de carnavais antigos, alguns sucesso dela própria e boas canções da música brasileira. Mais, recebeu como convidados uma das boas bandas dos anos 80 que permaneceram, os Paralamas (nessa sexta, melhor,ela recebe os caras do Los Hermanos).

No sábado, um evento meio mal idealizado. Numa mesma noite, misturaram Barão Vermelho, Charlie Brown Jr., Nação Zumbi e aquele tal de Márcio Mello. Quase água e óleo, visto os públicos distintos de cada atração. Mas ai penso. Oito anos trás seria possível uma noite dessas? Só bandas de rock, num espaço enorme, que costuma receber atrações do meio axé ou mais pop. Será que sei lá, 10 mil pessoas iriam para um show desses em Salvador anos trás?

Tudo bem, Barão é respeitado por todo mundo há um tempinho. Charlie Brown só é rock na embalagem e no rótulo. Tenho que aproveitar e falar do show do Charlie Brown Jr, aliás, Síndrome de Down Jr é o melhor apelido que a banda pode ter. A banda pode até ser competente, fazer bem feito o que se propõem, como acham alguns. Mas Chorão é um imbecil em cima do palco. Pra mim o show poderia ser resumido numa frase dita por ele. “Nós somos a pior banda do Brasil, mas temos o maior público”. Poderia ter dito “a gente é uma merda mesmo, mas vocês otários gostam” que teria o mesmo efeito. Mas nem tudo no rock pode ser bom e a banda santista sabe cumprir muito bem seu papel de uma das coisas mais sem graça, sem criatividade, personalidade e bobas da história do rock brasileiro.

Cabe dizer que quando entrei, tinha acabado de terminar o show do Barão Vermelho. Aliás, um grande erro botar os caras para abrir, como foi erro colocar Márcio Mello para tocar para ninguém no final. Não que ele não merecesse. O que valeu a noite mesmo foi o show da Nação Zumbi. Para alguns um show lento, sem vibração. Mas era questão de entrar no clima, pois a banda carrega no groove, em viagens sonoras, soando até psicodélica. Sucesso dos tempos de Chico Science se misturaram a músicas do último disco da banda, para encerrar com dois petardos: “Da Lama ao Caos” e “Quando a Maré Encher”. A Nação comprovou mais uma vez, mesmo num show mais curto que de costume, ser a melhor banda ao vivo do país.

No domingo, enquanto a Sala Walter lotava para se saber os finalistas do Vídeo 5 Minutos (o grande campeão foi um vídeo que mostrava um seqüestro de ACM e esculhambava a Tv Bahia – você imaginaria isso há oito anos atrás num evento promovido pela Fundação Cultural), Pitty promovia um evento ousado e de muito bom gosto na Concha Acústica.

Vou insistir. Pitty há oito anos era uma menina cantando numa banda de hardcore. O rock baiano até que encarou anos atrás um evento grandioso na Concha, o Bom Bahia. Mas e as perspectivas? Pitty acaba de chegar a 130 mil discos vendidos, ganhando disco de ouro, é sexto lugar em vendas em São Paulo, está gravando mais um clipe. A cena local já ultrapassa as fronteiras locais e qualquer festival que se preze no Brasil tem incluído alguma banda baiana. Retrofoguetes lançando disco no Goiânia Noise. The Honkers em festivais do interior de Pernambuco, um outro no Recife e preparando uma mega turnê que vai até a Argentina. Cascadura lançando mais um disco e tocando no Demo Sul, em Londrina.

Pitty recusou ofertas para fazer shows ao lado de bandas de blocos de carnaval e encarou bancar um show próprio reunindo o novo rock baiano. Admirável Rock Novo. Os endemoniados da Sangria, o punk divertido da Los Canos e o rock maldito brasileiro de Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta foram muito bem recebidos pelo público (que não era muito grande), formado em sua maioria por adolescentes que nem podem votar ainda. Um espaço aberto pela qualidade e ocupado com louvor pelos três grupos. É muito bom ver o público atento, dançando ou aplaudindo entusiasticamente bandas que tem qualidade de sobra, mas enfrentam um esquema complicado de ganhar público, por falta de visão de rádios, mídia e gravadoras.

Quando a dona da festa entrou o palco era como se fosse mais que um ídolo, mas a representante de algo maior. Não só do rock baiano, mas de se poder gostar de algo que não seja o padrão nessa bendita terra. É incontestável como as músicas de Pitty ganham peso, vigor e ainda mais qualidade ao vivo. Não é gratuito. Acompanhada de Peu (guitarras), Joe (baixo) e Duda (batera), a banda dá todo o suporte necessário para a estrela da noite desfilar, simpatia, carisma, uma voz calibrada, energia e uma atitude do caralho. Misturando músicas do disco, com citações (“Where´s My Mind- do Pixies), música novas (a bacana e pesada “Suas Armas”) e covers (“Deus lhe Pague” – Chico Buarque, “Candy” Iggy Pop, entre outras).

Para terminar num convite surpreendente. “Quero convidar ao palco uma das bandas mais importantes do rock baiano, Úteros em Fúria”. Apú, Wandinho, Mário Jorge e Marão em poucos minutos fizeram a velharada do rock presente (sim, boa parte do rock baiano foi prestigiar o sucesso de Pitty) relembrar uma das mais vibrantes performances de uma banda surgida por aqui, enquanto o público mais novo assistia a ensandecida participação com Peu e a banda detonando e finalizando com uma daquelas quebradeiras históricas que só o rock é capaz de proporcionar.

11/27/2004

Tarantino é mestre, isso ninguém duvida mais (aquela cena de Uma Thurman no caixão é digna de poucos gênio da raça). Mas é a forma como ele coloca as músicas nos filmes, é sensacional. Músicas que seriam pouco lembradas se ouvidas em outro contexto ganham um valor extra, marcam profundamente nos filmes e permanecem como clássicos na memória. Pense em Pulp Fictio e lembre de pelo menos três momentos onde a música é tão importante quanto as cenas. Pense em Kill Billl e tente pensar sem a música. Claro que não é só Tarantino que faz isso. Música é fundamental no cinema, tái os Morricones e Hancocks que não me deixam mentir. Mas normalmente são músicas (geniais) compostas especialmente para o filme. Tarantino escolhe uma seleção de música (poucas conhecidas) e as torna antológicas.

Não sei se vocês repararam, mas Tarantino além de lançar as trilha sonora com as músicas do filme, insere mais músicas nos filmes que nem aparecem depois nos CDs das trilhas. No primeiro Kill Bill várias músicas não estão na trilha, dá ora fazer outro disco, olha só:

- "Music Box Dancer", Frank Mills - cena de Pasadena e o caminhão de sorvetes
- "Armundo", David Allen Young
- "Truck Turner", Isaac Hayes - cena do estacionamento do hospital
- "Seven Notes in Black", Franco Bixie, Fabio Frizzi & Vince Tempera, por Vince Tempera & Orchestra - cena de Buck
- "I Lunghi Giorni Della Vendetta / The Long Day of Vengeance", Armando Trovajoli - a espada atinge a cabeça do pai de O-Ren
- "Il Grande Duello / The Grand Duel, M10", Luis Bacalov - quando O-Ren mata o chefão Matsumoto (bem diferente da versão do disco)
- "Wound that heals" (Kaifukusuru Kizu), Takeshi Kobayashi, por Lily Chou-Chou - quando a noiva encontra as espadas
- "I Walk Like Jane Mansfield" , The 5.6.7.8's - cena da casa das folhas azuis

11/23/2004

Tv Pirata
O melhor programa da história da TV Brasileira (tudo bem que pra mim conta só dos anos 8o pra cá, mas é sem dúvida foi o programa que influenciou tudo que fez rir no Brasil depois de 1990 - pro bem e pro mal)
Pois não é que algum bendito ser com algo no cérebro decidiu que vai lançar um DVD
da Tv Pirata?
Em janeiro sai o DVD reunindo em oito horas o melhor do programa, com uma seleção de esquetes e as imperdíveis e impagáveis séries, como "Fogo no rabo" e "O segredo de Darcy".
Tv Pirata ficou no ar de 1988 a 1990 e voltou em 1992. O elenco, hoje estelar, tinha Cláudia Raia, Débora Bloch, Diogo Vilela, Luiz Fernando Guimarãoes, Marco Nanini, Ney Latorraca, Louise Cardoso, Cristina Pereira, Regina Casé e Guilherme Karan. A direção era de Guel Arraes e os roteiros escrito pela turma do Casseta & Planeta.

Não Adormeça
Mas falando em anos 80, esses dias estava lembrando de um filme clássico que semrpe passava na Globo. Daqueles filmes para TV mesmo, sem grandes orçamentos, sem estrelas, produçao simples e tal. Quem viu quando era guri, no entanto, não deve esquecer, "Não Adormeça" tinha um dos títulos mais feladaputa que conheço, porque era isso mesmo, filme para assistir e não conseguir dormir depois.

A direção é de um tal Richard Lang, que dirigiu uns eisódio de Barrados no Baile e vários filmes para TV. O filme é um suspense psicológico que conta a história de uma menina que morta num acidente volta como um fantasma que tenta convencer a irmã a matar a família, pois os pais, a avó e o irmão tinham esquecido dela. Quem assistiu com certeza não esquece a primeira cena em que ela reaparece, sussurando o nome da irmã debaixo da cama "Mary mary mary". Para não dormir mesmo.
quem quiser saber mais sobre o filme leia aqui (inglês)

11/19/2004

O mercado de publicações sobre música no Brasil deu uma agitada nos últimos meses, mas, boas novas publicações e o fim de uma outra. Salvador não tem recebido todas essas publicações. mas...

- Outra Coisa (a tal revista de Lobão): chega em Salvador normalmente com atraso, mas surpreendentemente, a última edição, com capa do ministro Gilberto Gil e encartado com CD da Réu & Condenado (banda engraçadinha de Goiânia) já pode ser encontrada nas bancas. A editora fica devenedo a edição que vem com Arnaldo Baptista, que não deu as caras aqui ainda. A revista vem melhorando seu conteúdo, com textos melhores, mas ainda corre o risco de ficar com um ranço de tanto se posicionar politicamente contra a indústria, contra gravadoras, e não dar conta de manter uma continuidade com o discurso, apesar dele ser super válido.
(R$12,90)

- Mosh!: Eu pessoalmente acho uma das melhores revistas sobre música surgida nos últimos anos no Brasil, com textos interessantes, inteligentes e com bom humor. Desde quando li a primeira notei uma tendência a falar de coisas um pouco mais, digamos, adultas, fugir do que toda revista atual faz de tentar pegar o público adolescente. Proposta inteligente, porque pega as viúvas da Bizz (tem muito texto sobre bandas dos anos 80) e o público mais velho, que tem grana pra consumir e lê aind amuito revistas impressas, não são presas só a internet. Tem também a melhor distribuição entre as atuais publicações. Três edições já foram lançadas, sendo que a última, com Bjork na caoa, está nas bancas atualmente.
(R$6,90)

- Laboratório Pop: Infelizmente essa nunca deu as caras em Salvador e é difícil ser encontrada em qualquer lugar. Só tive acesso ao número um (em São Paulo), que achei meio desencontrada. Parecia não ter uma linha editorial, ao mesmo tempo que queria mostrar novidades, dava uma entrevista quilométrica e pouco interessnate com Lulu Santos (sinceramente, o que esse cara tem a dizer nos dias de hoje?). Já foi lançado o segundo número que parece ser interessante e traz uma matéria falando de como a idolatria atual dos Los Hermanos lembra a do Legião Urbana. É esperar pra ver se chega por aqui.
(R$4,50)

- Rock Press: A batalhadora revista parece um zine profissional. Em alguns aspectos isso é ruim, mas em outro ótimo. O probema é que a revista não é bem distribuída e só agora está vindo com as páginas internas coloridas.

- Dynamite - Não sou muito fã. Acho que tem problemas de distribuição, diagramação e não temuma linha muito definida. Nunca chega aqui em Salvador.
(R$7)


- Zero: Infelizmente depois de três anos a revista terminou. Eles alegam parada estratégica, mas por problemas com grana (sempre) não está mais rolando. No site eles explicam melhor.

Existem ainda revistas como Internacional Magazine e Jornal do Rock, mas que não chamam tanta atenção.

Especiais:

- A História do Rock Brasileiro: Não é uma publicação fixa e sim um especial dividido em quatro edições contando, como o nome já diz, óbvio, a história do rock feito no Brasil. O primeiro número faz um panorama do início do barulho das guitarras por aqui, abordando os anos 50 e 60 e trazendo na capa o nome mais importante dess afase, Roberto Carlos. O segundo é sobre os anos 70, sua porra louquice e uma das fases mais interessnates da música no Brasil. A capa é Raul Seixas, mas poderia ser Mutantes que também estaria justo. essa sduas edições ainda podem ser encontradas nas bancas. A próxima a ser lançada é sobre os anos 80 e traz Renato Russo na capa. Já a quarta vai traçar os anos mais recentes, 90 e 00, e traz Marcelo D2 ilustrando a capa (achei injusto, o nome certo aqui seria Chico Science). (R$12,95)


Quem fez (faz) um interessante trabalho analisando o jornalismo musical é o amigo Rodney Bricanelli. Ele vem realizando há algum tempo entrevistas com o responsáveis por estas revistas citadas acima e algumas outras, além de importantes jornalistas que escrevem sobre música. Veja os links:
Marcel Plasse - que hoje é dono de editora e responsável por um arevista de DVD e planeja um revista musical pra breve... (veja uma outra entrevista feita com ele, também por Rodney, quase um ano atrás
Régis Tadeu - o editor da Mosh fala sobre a publicação
Luiz Cesar Pimentel - editor da Zero que fala do fim da revista (ele também deu outra entrevista, há mais de um ano atrás)
Alexandre Matias - jornalista cultural e afins da melhor estirpe, já foi editor da Play, escreveu pra ShowBizz e escreve hoje para várias publicações.
Paulo César Martin - Um dos jornalistas resonsáveis pelo programa Garagem a Rádio Brasil 2000.
Lúcio Ribeiro - Um dos mais indie-jornalistas do Brasil, responsável por uma poêmica e bastante lida coluna, além de ser repórter da Folha de São Paulo.
Ricardo Alexandre - Então editor da finada Frente e autor do livro Dias de Luta.

11/16/2004

Depois de problemas, cancelamentos, data adiada, finalmente sai a programação do 10º Goiânia Noise:
Sexta-feira, 10/12
02h - Muzzarelas (SP)
01h30 - Tolerância Zero
01h - Sapatos Bicolores (DF)
00h30 - Violins (GO)
00h - Hang the Superstars (GO)
23h30 - Irmãos Rocha! (RS)
23h - Prot(o) (DF)
22h30 - NEM (GO)
22h - Rollin Chamas (GO)
21h30 - Flaming Moe (SP)
21h - Superoutro (PE)
20h30 - Suíte Super Luxo (DF)
20h - Señores (GO)
19h30 - Mob Ape (GO)

Sábado, 11/12
02h30 - Relespública (PR)
02h - Mustang (RJ)
01h30 - Devotos de Nossa Senhora Aparecida (SP)
01h - Resistentes (GO)
00h30 - Mechanics (GO)
00h - Pata de Elefante (RS)
23h30 - Astronautas (PE)
23h - Retrofoguetes (BA)
22h30 - Réu e Condenado (GO)
22h - Valv (MG)
21h30 - Faichecleres (PR)
21h - Necropsy Room (GO)
20h30 - Shakemakers (GO)
20h - Terrorista da Palavra (GO)
19h30 - The Computers (GO)
19h - Skyfuzz (GO)

Domingo, 12/12
00h30 - Bidê ou Balde (RS)
00h - Cachorro Grande (RS)
23h30 - Detetives (SP)
23h - Valentina (GO)
22h30 - MQN (GO)
22h - Jumbo Elektro (SP)
21h30 - Tequila Baby (RS)
21h - Deceivers (DF)
20h30 - Barfly (GO)
20h - Daniel Belleza (SP)
19h30 - BillyGoat (RJ)
19h - Eletrola (PA)
18h30 - ZenTropa (GO)
18h - Lake (GO)