Muita lama para se lambuzar
Nação Zumbi finaliza “Futura”, toca sábado em festival em Salvador e parte em turnê internacional
Um dos principais nomes da música brasileira atual, a banda pernambucana Nação Zumbi está em estúdio, onde prepara o novo disco. Antes de finalizar “Futura”, o grupo dá uma parada e vem a Salvador para um show nesse sábado no Wet’n Wild, ao lado de outros nomes consagrados da música pop nacional [Paralamas, O Rappa, Los Hermanos]. Apesar de não freqüentar a mídia, a Nação Zumbi já tem um trabalho consolidado há mais de dez anos e parte ainda este mês para mais uma turnê internacional. Dessa vez, além de Estados Unidos, Inglaterra e Portugal, o grupo se apresenta na Macedônia e na Eslovênia.
Mesmo não tendo ensaiado as músicas novas – já que estão em gravação –, é bem provável que Salvador ouça em primeira mão algumas das faixas de “Futura”. O álbum, terceiro de inéditas do grupo depois da morte de Chico Science, já está quase pronto. Com tempo disponível para compor, a banda começou a produzir no final do ano passado e em menos de dez dias gravou todo o instrumental. A próxima etapa, a mixagem, terá o canadense Scott Hard [que já trabalhou com Stereo MC’s, Medeski Martin and Wood e Morcheeba] como responsável. A produção do álbum é da própria banda.
Segundo Lúcio Maia, guitarrista, o novo disco ficou mais solto que os anteriores, menos atrelado a um conceito. “Nossa intenção é ser literal ao nome do disco. Criar idéias futuras, música futura, com longevidade. Fazer música para ser ouvida daqui a 30 anos. É um disco bem espontâneo.” O álbum deve vir com a cara da Nação Zumbi que os fãs conhecem, mas com muitas texturas, mais linear e groovado. “Futura” terá também uma sonoridade vintage, já que foi gravado de forma análoga, em fitas e com mecanismos usados nos anos 70. “Ele é um pulo para o futuro, mas com um pé no passado”, diz Maia.
Autoral – O repertório é totalmente autoral, com letras em português e quase todo composto depois do último disco. A exceção é “Revolución”, que não entrou em “Nação Zumbi” pela não liberação de uma fala de Che Guevara e que acabou ficando de fora na nova gravação. Entre as músicas do disco estão “A Ilha”, “Respirando” e “Hoje, Amanhã e Depois”, que deve ser a música de trabalho. As influências no álbum são as mesmas de sempre, não só música, mas quadrinhos, cinema e toda forma de arte. Na música estão lá reggae, dub, música brasileira, cubana e africana. “Somos muito fãs de Fela Kuti.”
Com arte visual do vocalista Jorge du Peixe, “Futura” deve chegar às lojas na segunda quinzena de outubro pela gravadora Trama. Residindo em São Paulo para viabilizar os shows pelo Sudeste, a Nação Zumbi permanece distante da grande mídia, mas não se considera uma banda independente. “Nós não pertencemos a um selo independente, estamos numa gravadora grande que se considera, mas não é independente. Podemos dizer que somos underground.”
Se, na época em que Chico Science liderava o grupo e o Mangue Beat estava em evidência, o grupo conseguiu um relativo sucesso na mídia, com música entrando até em trilha sonora de novela global, hoje o trabalho é feito praticamente fora do universo das rádios e programas de TV. Segundo Lúcio Maia, ficar fora desse circuito não foi uma opção, mas uma imposição do mercado. Assim mesmo, garante que dá para sobreviver. “Tanto que estamos aqui com disco novo e com muito gás. Ainda temos muita coisa para cumprir no nosso caminho. Ainda tem muita lama pra gente se lambuzar.”