7/28/2005

Muita lama para se lambuzar

Nação Zumbi finaliza “Futura”, toca sábado em festival em Salvador e parte em turnê internacional

Um dos principais nomes da música brasileira atual, a banda pernambucana Nação Zumbi está em estúdio, onde prepara o novo disco. Antes de finalizar “Futura”, o grupo dá uma parada e vem a Salvador para um show nesse sábado no Wet’n Wild, ao lado de outros nomes consagrados da música pop nacional [Paralamas, O Rappa, Los Hermanos]. Apesar de não freqüentar a mídia, a Nação Zumbi já tem um trabalho consolidado há mais de dez anos e parte ainda este mês para mais uma turnê internacional. Dessa vez, além de Estados Unidos, Inglaterra e Portugal, o grupo se apresenta na Macedônia e na Eslovênia.

Mesmo não tendo ensaiado as músicas novas – já que estão em gravação –, é bem provável que Salvador ouça em primeira mão algumas das faixas de “Futura”. O álbum, terceiro de inéditas do grupo depois da morte de Chico Science, já está quase pronto. Com tempo disponível para compor, a banda começou a produzir no final do ano passado e em menos de dez dias gravou todo o instrumental. A próxima etapa, a mixagem, terá o canadense Scott Hard [que já trabalhou com Stereo MC’s, Medeski Martin and Wood e Morcheeba] como responsável. A produção do álbum é da própria banda.

Segundo Lúcio Maia, guitarrista, o novo disco ficou mais solto que os anteriores, menos atrelado a um conceito. “Nossa intenção é ser literal ao nome do disco. Criar idéias futuras, música futura, com longevidade. Fazer música para ser ouvida daqui a 30 anos. É um disco bem espontâneo.” O álbum deve vir com a cara da Nação Zumbi que os fãs conhecem, mas com muitas texturas, mais linear e groovado. “Futura” terá também uma sonoridade vintage, já que foi gravado de forma análoga, em fitas e com mecanismos usados nos anos 70. “Ele é um pulo para o futuro, mas com um pé no passado”, diz Maia.

Autoral – O repertório é totalmente autoral, com letras em português e quase todo composto depois do último disco. A exceção é “Revolución”, que não entrou em “Nação Zumbi” pela não liberação de uma fala de Che Guevara e que acabou ficando de fora na nova gravação. Entre as músicas do disco estão “A Ilha”, “Respirando” e “Hoje, Amanhã e Depois”, que deve ser a música de trabalho. As influências no álbum são as mesmas de sempre, não só música, mas quadrinhos, cinema e toda forma de arte. Na música estão lá reggae, dub, música brasileira, cubana e africana. “Somos muito fãs de Fela Kuti.”

Com arte visual do vocalista Jorge du Peixe, “Futura” deve chegar às lojas na segunda quinzena de outubro pela gravadora Trama. Residindo em São Paulo para viabilizar os shows pelo Sudeste, a Nação Zumbi permanece distante da grande mídia, mas não se considera uma banda independente. “Nós não pertencemos a um selo independente, estamos numa gravadora grande que se considera, mas não é independente. Podemos dizer que somos underground.”

Se, na época em que Chico Science liderava o grupo e o Mangue Beat estava em evidência, o grupo conseguiu um relativo sucesso na mídia, com música entrando até em trilha sonora de novela global, hoje o trabalho é feito praticamente fora do universo das rádios e programas de TV. Segundo Lúcio Maia, ficar fora desse circuito não foi uma opção, mas uma imposição do mercado. Assim mesmo, garante que dá para sobreviver. “Tanto que estamos aqui com disco novo e com muito gás. Ainda temos muita coisa para cumprir no nosso caminho. Ainda tem muita lama pra gente se lambuzar.”

7/18/2005

A Nova MPB

Você é daqueles que acha que não existem boas novidades na música brasileira? Primeiro, desligue o rádio e a TV, neles você não vai encontrar, nem nos cadernos de cultura dos principais jornais. Pelo menos normalmente não. Lenine? Zeca Baleiro? Ana Carolina? Simoninha? Jorge Vercilo? Esqueça. A nova música brasileira atende por outros nomes, mais ousados, mais abertos a novidades, mais inventivos, menos “referencistas” e, infelizmente, mais desconhecidos.

Essa tal nova música brasileira não é necessariamente uma continuidade da tradicional MPB. O formato baseado em canções no violão aliadas à letras poéticas normalmente falando de relacionamento amorosos foi herdado por nove entre dez artistas de uma MPB “nova” que hoje infesta rádios e atendem ao público pseudo-exigente da classe AB. Artistas que fazem as mesmas coisas de seus antecessores, apenas reinterpretando as fórmulas de nomes como Caetano Veloso, Djavan, Elis Regina e alguns outros medalhões, sem trazer novas idéias.

A que se trata aqui é outra nova música popular brasileira, que capta sonoridades de nomes consagrados ou não da MPB, em especial Jorge Ben, Luiz Melodia, Mutantes, Novos Baianos, Gerson King Combo, Walter Franco e outros malditos. Além de sonoridades nordestinas e influências bastante diversas de música estrangeira, como Funk, Rock, Rap, Música Eletrônica, entre outros. Eles mantêm a riqueza poética e melódica que consagrou a MPB, mas trazem frescor e, agora sim, novas idéias para a música feita no Brasil.

Se você ainda não se deu ao trabalho de procurar, procure. O resultado pode e deve te surpreender. Um mundo paralelo, de diversos artistas produzindo discos, fazendo shows e criando uma nova música brasileira de verdade se expande por diversas cidades brasileiras. Sem a estrutura das grandes gravadoras, sem a divulgação através de propinas que move emissoras de rádio e TVs e sem os grandes cifrões de marketing, estes nomes vêm se movendo em ambientes paralelos aos mais tradicionais. Selos, festivais e eventos diversos, Internet e uma mídia mais compromissada com cultura do que com o mercado formam este universo alternativo ao tradicional.

Mas de quem esse cara está falando?

Brasil afora se ouve novos nomes revelando essa música nova, com cara e sotaque brasileiro, sem copiar ninguém e trazendo na bagagem de sons perdidos pelo mundo. O eixo Recife/ Olinda desponta como um dos pólos dessas produções. Fora os consagrados e co-responsáveis por essa nova cara da MPB, Chico Science, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e Otto, é dele que vêm nomes como Cordel do Fogo Encantado, Mombojó, Eddie, DJ Dolores e Junio Barreto, entre outros. Temperos diversos para criar uma sonoridade que não é música regional, não é música eletrônica, não é rock. É música brasileira nova.

Dj Dolores acaba de lançar com seu novo projeto, Aparelhagem, um trabalho que traz os ritmos paraenses, o brega e o carimbó, mesclados com elementos dos ritmos pernambucanos e música eletrônica. A Mombojó reúne Tom Jobim, Jorge Ben, Stereolab, Bossa Nova, Samba e cria um som particular. A Eddie, uma ex-banda punk, que mergulhou na sonoridade de sua terra natal, Olinda e extraiu uma miscelânea de sons, traduzindo a atmosfera da cidade em dub, frevo, samba e rock. Junio Barreto, residente em São Paulo, que lançou ano passado um espetacular disco onde coloca um pé na tecnologia e o outro no terreiro, com uma combinação de canções e letras que já vem chamando atenção de intérpretes como Maria Rita e Gal Costa. E o Cordel do Fogo Encantado com sua forte poética nordestina e percussiva.

Na Bahia, um dos nomes que mostra esse frescor criativo é Ronei Jorge e sua banda Ladrões de Bicicleta. Eles fazem música brasileira de alta qualidade, com um cuidadoso trabalho de composição, letras e arranjos e um passeio por lados menos óbvios da música brasileira, com pitada de jazz e uma base rock´n´roll. Também da Bahia destaca-se a tara_code, uma dupla que produz uma música não-comercial, repleta de elementos, que vão de ritmos do Nordeste a rock e trip hop, e resulta num trabalho rico e bastante particular com sonoridade inovadora, experimentações e forte carga poética.

Em várias outras cidades nordestinas essa nova música ganha respaldo. De Alagoas, o cantor Wado aparece como um dos principais nomes. Residente no eixo Rio-São Paulo e com três discos lançados, ele faz uma música de personalidade com referências a sons do Clube da Esquina, Jorge Ben, black music brasileira e rock. Alguns outros trazem um flerte mais claro com a música eletrônica. Como é o caso de Chico Correa & Eletronic Band, da Paraíba; Lado 2 Estéreo, do Piauí, e Sonic Jr., de Alagoas, que utilizam elementos da música nordestina e reprocessam através de computadores, samples e loops.

No universo do rock nacional também aparecem diversos artistas trazendo uma carga brasileira além dos resquícios dos sons de Nova Iorque e Londres. Se o Los Hermanos já mostra isso, com seu rock-samba, gente como Nervoso e Luísa Mandou um Beijo, do Rio de Janeiro, Frank Jorge, do Rio Grande do Sul, Cidadão Instigado, do Ceará; Numismata, de São Paulo, temperam com referências que passam por Jovem Guarda, Bossa-Nova, Samba e outros elementos aliados à guitarra, baixo e bateria. Nesse rápido panorama, outras dezenas de nomes não foram citados, numa das mostras de que novidade é o que não falta, basta sintonizar outras fontes. O novo? Sempre vem.

7/15/2005

Novidades
Boas e ruins.

1 - O programa Rock Loco já ficou para história e dela não sairá. Durante dezenove meses, quatro vezes por semana, em programa de duas horas de duração, Salvador pode ouvir sons que nunca teve chance e espaço no dial local. Além de muita música dos estilos mais diversificados e loucos do rock local, nacional e mundial, o programa realizou entrevsitas, recebeu convidados e forneceu muita besteira aos ouvidos dos fiéis ouvintes. Os mais de 10 locutores que passaram pelo program vão deixar saudades e vão sentir saudades, ma so Rock Loco saiu do ar.

2 - A revista OutraCoisa está com uma promoção muito boa para quem perdeu as edições anteriores. Todas as edições, inclusive a última, que traz o CD de Lobão. Portanto, é uam boa chance para comprar por R$ 9,90, (visite o site) as revistas acompanhadas de Cds de gente de alto nível como B-Negão, Wander Wildner, Mombojó, Cachorro Grande, Arnaldo Baptista, Réu & Condenado, Rogério Skylab, Quinto Andar e Lobão. A revista, que está sendo lançada em Portugal, traz nas próxima edição, que sai esta semana uma antologia do coletivo Instituto. "Selo Instituto na Coleta Seletiva" traz canções que foram trilha sonora de sucessos do cinema independente brasileiro, como "O invasor" e "Amarelo Manga", além de uma faixa inédita do falecido rapper Sabotage lançada apenas na Inglaterra. Apóes esse disco, a revista deve lançar o primeiro trabalho do grupo paulista Daniel Belleza e os Corações em Fúria.

7/03/2005

A Volta da Bizz
Uma das melhores notícias do ano no mundo pop-rock brasileiro é a volta da revista Bizz. Criada em 1985, impulsionada pela evidência do rock devido ao primeiro Rock in Rio que acontecia naquele ano, a revista foi responsável pela formação de conhecimento musical de algumas gerações. Quem acompanhou a revista conheceu através dela muito do que passou a ouvir, desde nomes internacionais e novidades brasucas. O melhor com texto de alto nível. Boa parte dos melhores jornalistas de música do país passaram pela Bizz, o que acabou criando uma escola. A revista havia terminado em 2001 numa fase não das melhores. Mas agora está de volta e tem o desafio de se manter frente a um mercado onde a Internet oferece informação a rodo. Mas a proposta da editora Abril e dos responsáveis pela nova Bizz é alcançar o antigo público da revista, aquele leitor acima de 25 anos, que consome cultura pop e que não se atem apena ao universo rock, mas pop em geral, eletrônica, MPB. Excelente proposta, que se rá feita por jornalistas da velha gerção e gente nova. É esperar para ver o resultado. A Bizz número 193 chega às bancas na primeira semana de setembro por R$ 9,95 mantendo seções clássicas, trará seções novas, manterá as críticas de discos, entrevistas, reportagens... A partir daí, sempre na primeira semana de cada mês, nova edição de Bizz.
Antes da volta da Bizz de verdade, a revista solta outras edições especiais (Esta semana está chegando à sbancas a [ultima edição do especial "A História do Rock, contando como foi o universo das guitarras entre 1980 e 2005, com capa do U2). O novo especial trará, na primeira semana de agosto, os "100 Maiores Shows no Brasil de Todos os Tempos" mais um produto da série “100”, que começou com as 100 Capas. No mesmo formato e preço: R$ 14,95.
Além disso, será no final de agosto lançado um CD-ROM comemorativo dos 20 anos de Bizzz (1985-2005) contendo todas edições anteriores na íntegra, são 192 no total, reunindo as diversas fase da publicação. Estará incluído ainda 10 especiais lançados pela revista e 10 extras (flexidics, capas que não saíram, programa Rádio Bizz etc). Um daqueles produtos obrigatórios para quem gosta de boa música.