5/13/2004

Vai gostar de rock assim na casa do caralho!*

Quem me conhece um pouco sabe de minha veneração por música e sabe da importância do Pixies nisso tudo. Quando vi a banda em cima do palco lembrei quando eu ouvia os discos, ficava pensando em ter banda, trocava figurinhas comuns maigos pra saber o que queria dizer cada letra. Foi (e é) a banda do coração desde que conheci, pelo menos a que permaneceu sempre como a favorita.
Eu sempre dizia que o show que mais queria ver na vida era o de Frank Black, já que o Pixies havia terminado. Black andava tocando umas três músicas de sua ex-banda nos shows. Eu sonhava.
De repente especula-se da volta do Pixies. Eu não acredito.
CONFIRMADO.
Depois fala-se de shows, turnê... Eu acredito e penso em roubar um banco pra ver algum show nos Estados Unidos ou Europa.
Então cogita-se show dos caras em Curitiba, no mesmo festival que Kim Deal (a baixista do Pixies tocou com sua outra banda ano passado).
Não acreditava, todo dia, várias vezes por dia abria sites em busca de uma confirmação.
CONFIRMADO.
Nem pensei em trabalho, em dinheiro, no preço. EU IA VER PIXIES, não tinha jeito.
Assim que anunciaram que iam ser apenas 3 mil ingressos pensei como seria disputado.
No primeiro dia de vendas estava eu lá sem pensar muito no resto, mas comprando meu ingresso.
Comprei e vi a agonia de fãs desesperados porque não havia mais ingresso a venda.
Lamentei. Sei o que é isso, queria muito ter ido para o Nirvana e perdi, chorei na frente da TV. Me prometi que não perdeira mais os shows que sonhava ver.
6:00 - dia 6 de maio - Curitiba
De cara a chegada a capital paranense mostra que o frio seria companhia permamente durante a estadia. Um passeio pelo centro, uma visita a lojas bacanas de CDs,já dava pra ter noção que ali era uma cidade rock de verdade, não poser como São Paulo e melhor, simpática aos visitantes. Na noite uma visita ao bar Korova, um bando de figurinhas do rock local e um acústico bacana com uma gata cantando Mutantes, Rolling Stones e outras pérolas. Dormir que no outro dia tem o primeiro capítulo.
20:40 - dia 7 de maio - Curitiba
Todo mundo que tinha pra chegar já estava em Curtiba. Rumo: Pedreira Paulo Leminski. O lugar enorme e lindo era perfeito para o que estava pra acontecer. Os amigos curitibanos lembravam que por ali já haviam tocado Ramones, AC/DC, David Bowie e Paul McCartney.
Um amigo alertava: "vi uma matéria na TV mostrando a chegada do Pixies e Kim Deal não estava".
Antes de pensar em se aproximar do palco, já que os primeiros acordes da local No Milk Today começavam e não agradavam (o cover de "Head On" foi até legal, mas também...). Não tinha dinheiro, mas cheque serve pra comprar a camiseta oficial da turnê do Pixies (R$30), adesivos e pins (R$10) e o Doolittle (R$22) que tinham me roubado.
Outra banda local se apresenta, Kingstone. Agora já estou próximo ao palco, dentro do cercado reservado para os 3 mil que compraram os primeiros ingressos (acho que todo mundo sabe que acabaram colocando mais 5 mil ingressos a venda). Divertido o showzinho de ska, dava pra espantar o frio e ver que os indies presentes eram indies mesmo. Entra ao palco a banda nacional que eu mais queria ver naquele dia: Pipodélica. Os catarinenses fixzeram um bom show, mesmo o som não estando lá essas maravilhas. Belas canções, psicodelia e uma cover de David Bowie. Bacana. Se deram bem.
A Íris deve ser bem melhor do que pareceu. O som e o lugar que parecia uam arena gigantesca não ajudavam. Balanço, ritmo, energia e calor invadiam o ambiente, no meio daqueles oito graus de frio (nem senti tanto frio assim nesse dia, mas tudo bem). Eramos alagoanos do Sonic Jr. com sua boa mistura de música brasileira e eletronices. Bom show. Os suecos do Hell on Whells bem que tentaram fazer daqueles shows inesquecíveis, mas não passaram de uma vitória magra, 1 a zero mesmo.
Se o Pixies era o objetivo, ver o Teenage Fanclub era um bônus inacreditável. Eu gosto muito da banda, acompanhei principalmente na fase Bandwagonesque, Thirteen e Grand Prix, depois, assumo, deixei um pouco de lado, gostava, mas já não era tão bom.
E que bônus, a banda terminou sua turnê com um belo show (pelo que falaram o menos maravilhoso no Brasil, já que o menos intimista). O clima da Pedreira não é o melhor pra um show de uma banda repleta de belas canções, delicadezas e muita sensibilidade. Tem problema não, a banda não é nenhuma inexperiente e fizeram um show quase irretocável. Praticamente todos os "hits" estavam lá, com a troca de vocais entre os intregrantes mantendo o mesmo clima. Melhor ainda quando cantavam juntos, numa afiada e muito bonita sinfonia de vozes. Só não curti tocarem "The Concept" numa versão mais curta que a original do disco. Showzaço.
O massa em Curitiba é que a noite rock ferve de verdade. Atentos a massa de aficcionados pelos bons sons que visitam Curitiba graças ao CPF, produtores locais criaram o RG (Rock de Garagem), um festival com nome oportuno e programção tão quanto. Essa primeira noite, por exemplo, tocaram: Criaturas e Black Maria (ambas de Curitiba), Leela do Rio e Detetives, de São Paulo. Pena que não deu tempo de ir, pois o show do Teenage acabou lá pelas 3h30 e não queria pegar uma banda só, além de querer descansar pra pegar o outro dia desde o início. Quem foi disse que Detetives fez um grande show, não duvido, peguei showzaço deles em Goiânia uma vez.
16:40 - dia 8 de maio - Curitiba
Finalmente chegou o dia que iria ver o Pixies ao vivo. Antes um batalhão de shows, alguns prometiam. Perdi um dos que mais queria ver, Grenade. Não deu pra pegar também Tarja Preta e Poléxia. Os curitibanos da Excelsior eu vi de longe e me pareceu um bom show. A partir dai foi tratar de diversão. E um dos destaques do Festival cumpriu muito bem a parte que lhes cabia. Simone, Gabriel e Bacalhau botaram fogo no frio e fizeram do show dos Autoramas um dos melhores do festival. Muito bom, com direito a introdução de "Here Comes your Man" pra atiçar a massa ansiosa. O Pelebroi não Sei é uma das duas principais bandas locais. Mostraram bem como fazer um show de rock em casa. O vocalista Oneide é uma atração a parte. Chamou o público para a dança e atiçou os espremidos que ficavam na parte discriminada da grade (os que compraram ingressos na segunda remessa), acabaram cedendo e todo mundo ficou mais próximo. Punk rock bom, bem feito e divertido.
Claro que nem todo mundo acerta. Bandas como Pin Ups e Ludov só ajudam a comprovar a teoria que por aqui emodulamos o que se ouve lá de fora. As bandas paulistas fizeram os piores shows do festival, com destaque para o Pin Ups, que de ícone indie nacional quase vira piada pública. A Ludov com um popzinho metido a indie bem bobo e a Pin Ups não percebendo que não só teria que fazer muito para abrir para a principal atração da noite, como agiram como se tivessem muito mais importância do que têm na verdade. Melhor não perder tempo.
Ainda antes do Pin Ups, a local Relespública representou mais uma vez muito bem o rock local. Direito até a "Eu sou Terrível", de Roberto Carlos e covers de Who.
De Recife, veio a banda mais criativa entre as brasileiras. A Mombojó fez um excelente show em 2002 no Abril Pro Rock, passou despercebida por quase todo mundo, agora com disco distribuído pela Revista Outra Coisa, a banda está sendo muito (bem) comentada pela crítica. E não deixaram por menos. Frio? Em suas músicasfalam de sol, de morte e amor. No som, uma bem temperada mistura de rock, música eletrônica, mpb, bossa-nova. Daquelas coisas bacanas vindas do Recife e difíceis de classificar.
Curitiba e o festival são do rock mesmo e nada melhor que uma reunião histórica do já tradicional rock gaúcho. Wander Wildner, Frank Jorge, Flu e Jimi Joe mostraram um pouco de cada uma de suas trajetórias, solo e com suas ex-bandas (Replicantes, Graforréia Xilarmônica e De Falla, respectivamente) no melhor show entre os nacionais. Wildner é um monstro no palco e conseguiu levar o público ao delírio mesmo com a ansiedade da espera do Pixies. Afugentou até os nove graus de frio que fazia no local.

Finalmente
Se alguém duvidava da capacidade de uma banda parada há 12 anos. Se achavam que era tudo só pelo dinheiro e que uma volta não teria a mesma graça. Se imaginavam que não fariam um show antológico. Frank Black (vocal e guitarra), Kim Deal (baixo e vocais), Joey Santiago (guitarra) e David Lovering (bateria) provaram, com sobra, que apostaram errado. E daí se eles estão gordos e/ou carecas? Pixies é Pixies, uma das bandas mais importantes da história do rock. Eles não são dinossauros, longe disso. Estão musicalmente em cima. Entrosados, felizes e com frescor, sim, frescor rocker. Como poucos.

Show impecável, excelente e coloque aqui quantos adjetivos quiser, eles cabem. Em pouco mais de uma hora e meia de apresentação, o Pixies desfilou 28 músicas em sua apresentação no Curitiba Pop Festival no último dia 8 de maio, na capital paranaense. A primeira e única apresentação da banda no Brasil foi uma catarse para os cerca de nove mil presentes na Pedreira Paulo Leminsky. Quem viu não vai esquecer.

Para se ter uma idéia, a única alegação de alguns para não ter gostado do show foi o fato da banda não ter se dirigido ao público. Frieza? Não para quem conhece a banda e sabe que eles não são muito de falar, nem com imprensa, nem com a platéia, nem com ninguém. Apenas tocam. E como tocam. Pra que mais? Em cima do palco o baterista David Lovering era o mais feliz e eufórico com sua reluzente careca, tirava foto da banda e do público. Kim Deal e Frank Black - sim, muito gordos, mas who care´s? - trocavam confidências e abriam largos sorrisos entre as músicas (quem sabia o motivo da separação da banda anos atrás abriu um sorriso cúmplice). Joey Santiago, mais sério, tratava só de executar os riffs, solos e barulhos de guitarra que tornaram a banda uma das mais sensacionais de todos os tempos.

E se uma banda tão sensacional aterrisa no Brasil, não dá para ser frio e escrever como se fosse apenas um show de rock. Era um sonho para muitos poder ver e principalmente ouvir aqueles quatro ali criando momentos mágicos, como deve ser com a música. Pra mim era, um sonho realizado. A banda, que fez pouco mais de dez apresentações antes do show no Brasil, brindou o público brasileiro exclusivamente com músicas próprias. Deixaram covers de lado, nos shows anteriores quase sempre revezavam Head On do Jesus & Mary Chain e Winterlong de Neil Young. Eles sabiam como eram esperados há anos aqui e fizeram um daqueles shows que quem viu não vai esquecer. Quase todo Doolittle (10 músicas de 15 do disco), quase todo (5) Come On Pilgrin, 9 do Surfer Rosa, 2 do Tromple le Monde (inclusive Planet Sound que estava fora do set e entrou no meio do show por sugestão de Kim Deal), 1 do Bossanova, além de Into the White, tirada do EP de "Here Comes Your Man".

Na verdade, bastaria o set list para tentar resumir da melhor forma o que foi o show e babar:
1. Bone Machine
2. Cactus
3. Nimrod's Son
4. U-Mass
5. Crackity Jones
6. Isla de Encanta
7. Vamos
8. Monkey Gone to Heaven
9. Hey
10. I Bleed
11. Broken Face
12. Something Against You
13. Mr. Grieves
14. Velouria
15. Caribou
16. No. 13 Baby
17. River Euphrates
18. Levitate Me
19. The Holiday Song
20. Gouge Away
21. Wave of Mutilation
22. Tame
23. Here Comes Your Man
24. Where Is My Mind
Encore:
25. Gigantic
26. Debaser
27. Into The White
28. Planet of Sound

Era uma atrás da outra, quase emendadas, sem palavras ou parada pra respirar. Entre berros e choros do público a banda executava alguns dos minutos mais mágicos de música.


Mas não terminou ali. O Rock tinha que continuar. Todos ainda em pleno êxtase e com sorrisos que transbordavam o rosto. O caminho era o RG. Tentar ainda ouvir rock. Pegamos um táxi como autor da frase lá em cima. O Cine estava lotado. Uma sequência de shows do nível dos melhores festivais independentes do país:
Walverdes - MQN - Faichecleres -
por fim uma surpresa fantástica. Jupiter Apple. Mais do que isso, dois shows. Um com a formação atual, que tocou as belas canções dos trabalhos mais recentes ("Collector's Inside Collection"), covers bacanas ("Carol"), além de "Querida Superhist x Mr Frog ", do clássico primeiro disco. Mas o melhor foi ver Flavio Basso no palco, acompanhado da Sétima Efervescência e agora empunhando a guitarra. A mesma formação que gravou o citado primeiro disco: Glauco e Emerson Caruzo.
Faltou "Miss Lexotan", mas a sequência foi suficiente: "O Novo Namorado", "Pictures and Paintings", "Casalzinho Pegando Fogo", "Síndrome de Pânico", outro cover, "My Generation", do Who, e pra fechar magistralmente,todos cantando "Lugar do Caralho". Guitaras, Psicodelia e uma atmosfera maravilhosa dentro de um ex-cine pornô, às 6h20 da manhã. 8 horas saímos do lugar. Uma noite histórica e pra não esquecer nunca.

AINDA NÂO TERMINOU


* a frase é de Frank, não o Black, nem o Jorge, mas um taxista que pegamos em Curitiba e não se aguentou de rir da gente comentando o show do Pixies.