3/29/2003

Depois da decepção com "Carandiru", comprei um passaporte disposto a ver vários filmes do Panorama. Acabei perdendo filmes como "Enbriagado de Amor" (de Paul Thomas Anderson - o cara de "Magnólia" e "Boogie Nights"), "Simone", "A Viagem de Chichiro", "Seja o que Deus Quiser", "Promessas de um Novo Mundo", entre outros. Os dois primeiros devem entrar em cartaz no circuito comercial. "A Viagem de Chichiro" também, já que ganhou o Oscar de longa de animação. Bom, é aguardar. Resolvi então me programar e consegui ver quatro bons filmes. Primeiro "Lixo e a Fúria", documentário que conta a história da banda inglesa punk Sex Pistols. Muito boa a forma de contar a trajetória dos caras, inserindo imagens de TV da época. Nunca tinha visto Sid Vicious sóbrio e sem efeito de drogas (pelo menos aparentemente). O filme havia sido destaque da primeira edição do evento no ano passado, mas tinha perdido. Esse ano tive que ir meio dia de domingo ao cinema, mas não perdi. Outro bom filme foi "O Que Fazer em Caso de Incêndio", filme alemão levinho que conta a história de anarquistas que envelhecem e se reencontram. Divertido, com trilha sonora legal (Radiohead, Iggy Pop...). Nada sensacional, mas bacana. Dois dos filmes que eu mais queria ver deixei para o mesmo dia. O pernambucano "Amarelo Manga", dirigido por Cláudio Assis, já entrou na lista dos melhores do ano e acho que também na dos melhores brasileiros dessa chamada "retomada". Não lembro de um filme brasileiro com personagens tão interessantes e bizarros. Você fica meio aturdido durante o longa porque não há uma história única e simples. São várias histórias paralelas, mas não está aí mais interessante do filme. A construção dos estranhos personagens, a fotografia, a forma como o diretor decide contar tudo aquilo é muito interessante. Fora que mostra muito bem a cultura urbana do Recife, talvez de qualquer grande cidade nordestina, com seus hábitos e características próprias e mais ainda de seus personagens. O roteiro de Hilton Lacerda é muito bom, assim como a fotografia de Walter Carvalho (de novo). Logo depois fiquei pra ver outro filme, o badalado francês "Irreversível". Muito foda. Quem tinha lido sobre ele, me alertava para o peso da cena do estupro, nem achei a mais forte. Logo no começo do filme tem uma muito pior (queria saber como filmaram aquilo). O filme é muito bom, não dá para desgrudar da tela. A forma de contar, de trás para frente pode nem ser original. Mas, assim como em "Memento"(Amnésia), tem sentido com o próprio objetivo do diretor. Em "Irreversível", achei que a brincadeira com o "final" feliz fantástica. Grande filme.

Vou começar essa coisa de blog a sério. Vamos ver se gosto mesmo e até vicio.
Queria começar falando do II Panorama Coisa de Cinema, que começou na quinta (dia 20 de março) e termina amanhã (dia 30). A abertura do evento foi o filme brasileiro mais esperado pós-"Cidade de Deus", "Carandiru", do mezzo brasileiro, mezzo argentino, Heector Babenco. O filme náo é ruim, mas está longe de ser bom e entrar no rol dos bons filmes do novo cinema brasileiro.
Me lembrou o cinema nacional dos anos 80 pelas fracas atuações dos atores até metade do filme. Mas achei que Babenco errou a mão porque tentou transpor ao máximo as páginas do livro "Estação Carandiru", do médico Dráuzio Varela, do qual o filme foi baseado. Não li o livro, está na lista, mas sei que é o médico contando sua experiência dentro do complexo penitenciário paulista. Ele foi realizar exames de HIV nos presos, já que havia a suspeita de uma epidemia da doença no local. A primeira bola fora de Babenco na adaptação foi querer colocar o médico na história. Tudo bem que ele quis homenagear o amigo, mas o médico é totalmente desnecessário no filme. Outro erro foi tentar pegar as várias histórias do livro e condensar no filme. Não deu certo, parecia, às vezes, um monte de curta mal reunidos em um lugar só. Achei a narrativa conservadora demais e nem tô pensandoem comparar com "Cidade de Deus". O problema é que o filme é normal demais. O diretor assumiu que quer é atingir o maior número possível de pessoas e não se importar com festivais. Tudo bem, mas isso pode ser traduzido como subestimar o público. Fazer um trabalho convencional demais, superficial demais, querendo agradar o máximo de pessoas. tsc tsc. A Globo tá ai para isso. O iflme pretende chocar com cenas mostrando a invasão do complexo pela polícia, o que acarretou a morte dos "111 presos indefesos". Até nisso, o diretor não conseguiu o que queria. Sem explicar direito o que aconteceu, ele apenas mostra uma invasão fria, que de tão fria nem choca o espectador. Se foi isso que ele quis, não conseguiu. De qualquer forma, não é um filme péssimo, dá para assistir sem sair tão irritado, mas não espere nada sensacional. Ah! Alguns atores se salvam, especialmente os menos conhecidos, como Ailton Graça (que faz Majestade) e Milhem Cortaz (Peixeira). A fotografia também merece destaque, mas também com Walter Carvalho...