12/16/2003

Ninguém duvida e questiona da força e importância do talento de Tom Zé, muito menos da qualidade de sua música. Mas o baiano de Irará vem entrando nos últimos anos num campo perigoso. Aos 67 anos já consolidou seu trabalho como um dos mais fundamentais da história da música brasileira. Ousado, versátil, inteligente, gozador e criativo, mas que vem dando sinais de perder o impacto e a capacidade criativa de tempos atrás. Normal, diria a maioria. Para o que ele já produziu é verdade, pode cometer vários erros que está no crédito. Os trabalhos mais recentes do cantor e compositor continuam revelando letras ácidas, com críticas a globalização, violência, Bush e por ai vai. O problema é que a forma sutil e mais inteligente de outros tempos foi subistituída por letras mais diretas e que parecem desesperadas em ser entendidas. Pode até ser uma opção, acredito até que seja. Prova disso é o próprio título do álbum mais recente "Imprensa Cantada", como se ele quisesse cantar e mostrar através da música o que vê diariamente nas páginas dos periódicos. Assim mesmo, são trabalhos que mostram um Tom Zé bem menos inspirado, como quando canta "Companheiro Bush" ou "Urgente pela Paz", que poderia estar em qualquer campanha da rede Globo em prol da paz.
Junte a isso o fato das apresentações do baiano passar a ser encarado como show de um menestrel engraçadinho do quilate de um Juca Chaves. Não desmerecendo o narigudo baiano de adoção, mas o trabalho de Tom Zé está num patamar bem superior. Claro, ele não é culpado, o público nos dias de hoje parece não estar feliz com a vida e ri de tudo, até do que não deve. É o riso social que falei aqaui mesmo num outro comentário. O show de Tom Zé sempre foi crítico, com bom humor e com música de alta qualidade. Mas corre o risco da música e suas magníficas composições ficarem em segundo plano e ele se tornar uma caricatura.
No último fim-de-semana, Tom Zé fez uma temporada de shows em Salvador, no Teatro da Casa do Comércio. Bom show, mas quem já viu outros notou como as músicas novas são inferiores, como as antigas fazem falta e pior, fica a impressão que ele se conformou com a idade e se satisfaz em divertir o público, botando ele para cantar e fazendo rir. Será que síndrome da idade que afeta 9 entre 10 artistas consagrados da música brasileira atingiu Tom Zé? Espero que não.