9/27/2004

11º Perc Pan
Está difícil dar conta de tantos shows, tantas bandas e tanta coisa na cidade. Sim, estou falando de Salvador, por incrível que pareça. A cidade está em ebulição e vive um momento crucial. Não lembro de tantas bandas existindo ao mesmo tempo e sempre surgindo uma muito boa aqui, outra lá. Se os shows internacionais ainda não direcionam seu rumo para cá isso parece cada vez mais só questão de tempo. Os nomes nacionais já estão vindo, sejam os mais independentes, sejam os maiores.
Semana passada aconteceu o Perc Pan, décima primeira edição. Não tão bom quanto já foi, o evento ainda tem seus méritos. Tudo bem que Marcos Suzano não mantém o nível de Gilberto Gil e Nana Vasconcelos de outros tempos e que a produção apresente falhas quase que constrangedoras. Estive no primeiro dia. Casa cheia. Aqui vale dizer que o TCA tem várias vantagens (qualidade do som, tamanho etc), mas força o público a se comportar como japonês em show de rock, só aplaudindo.
Quem abriu o evento foi o Cortejo Afro, bloco afro que mantém o samba reggae e mantém a forte marcação que marcou a música baiana tempos atrás. Bom começo, que acabou passando despercebido diante de um grupo de “índios” que se apoderou do palco. Não dá para criticar a música, era simples e básico como deve ser na tribo, três representantes da tribo tocando percussão e um pífano. Nem era ruim, mas o amontoado de dançarinos vestidos como numa escola de samba do Rio assustou. Pior que era inacreditável como aquilo demorava e ninguém fazia nada.
Assim como nas outras edições, o músico/ curador serviria como apresentador, tocando nos intervalos enquanto a próxima atração se apresentava. Marcos Suzano, acompanhado do tecladista Alex Meireles, apresentou interessantes experimentações feitas com percussão, samples e efeitos eletrônicos. Para em seguida entrar no palco Peu Meurray e sua brincadeira com pneus. Seu grupo, os Pneumáticos, até que consegue criar bons momentos com os instrumentos percussivos montados sobre base de pneus de aviões, caminhões e peças de automóveis, mas a obsessão de Peu em ser Carlinhos Brown atrapalha e fica só na tentativa. Peu acerta em tentar modernizar os toques percussivos, mas erra ao tentar criar músicas com letras sem sentidos e tentar aparecer mais do que a música.
A demora de troca de palco foi irritante. A atração seguinte foi Ed Motta e banda. Tudo bem, eram grandes músicos, indiscutível, excelente banda, mas já era tarde e aquele jazz cabeça começou a incomodar o público, que preferiu se abastecer para assistir a última atração.
Ótima idéia, reunir Tony Allen e músicos brasileiros. A proposta foi do próprio Allen, baterista nigeriano, criador, ao lado de Felá Kuti, do afro-beat, base de toda a música africana moderna. Ele queria tocar com novos artistas daqui. Os convidados eram de alto calibre, o carioca B-Negão acompanhado de uma banda de jovens músicos ilustres, Fernando Catatau (guitarrista e mentor do Cidadão Instigado - Ceará), Areia (baixista do Mundo Livre S/A - Pernambuco), entre outros.
B-Negão entrou no palco acompanhado de Fernandinho Beat Box. Acabou sendo um dos melhores momentos da noite. Beat Box é o nome da técnica de criar batidas e sons com a boca, uma das marcas do hip hop. E o tal Fernandinho deu um show a parte, fazendo batidas de vários ritmos, “tocando” com uma gaita e com um celular, enquanto B-Negão levava raps. Em seguida entra no palco o restante da banda, com Tony Allen comandando nas baquetas.
Era nítido que não havia sido feita uma grande preparação do show. Era quase improvisação, com os músicos tocando três músicas criadas no dia anterior no único dia de encontro deles antes do show. O esquema era a banda mantendo o ritmo, com um outro destaque para as guitarras de Catatau e B-Negão criando versos na hora e cantando ou citando músicas de Tim Maia, Jovelina Pérola Negra, Planet Hemp, entre outros. Claro, também levou músicas e citações próprias, além de improvisar versos como um bom rapper. Para finalizar uma música de Allen e um encontro entre todos os músicos da noite. Meio constrangedor ver Peu Meurray querendo brilhar mais do que todos e assumindo os microfones para não fazer nada. Mas dizem que baiano não nasce, estréia. Fazer o que?