A grande industria, a pirataria, o jabá e a ignorância
Mais uma vez os números apresentados recentemente pela indústria fonográfica sobre a pirataria causam alarde. Segundo um estudo realizado pela IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), um em cada três CDs vendido no planeta é pirata. Só no ano passado, um bilhão de CDs piratas foram comercializados, rendendo US$ 4,5 bilhões e representando 15% do total do mercado fonográfico. O estudo indica ainda que a pirataria cresceu 4% em 2003 numa relação com o ano anterior. No Brasil, a pirataria cresceu 9%, ao tempo que o mercado de CDs originais caiu 25%. A tal crise amplamente alarmada pela indústria, no entanto, não apresenta em seus números o lucro das gravadoras que foi de US$ 33,7 bilhões em 2001.
Outro dado não revelado pela indústria e seus estudos, é que nos países onde a produção e o consumo nacional são fortes, a pirataria é maior. Nos países que consomem mais produtos internacionais, a pirataria diminui. No Brasil, onde 80% das vendas é representado por artistas nacionais, a pirataria é enorme. Já a Áustria, por exemplo, está no grupo de países onde a produção internacional representa 90% do mercado, ao mesmo tempo em que pertence ao grupo onde a pirataria representa menos do que 10%. O que indica que a grande indústria não dá conta das produções locais, que trabalham a divulgação de seus trabalhos através de discos considerados piratas. O estudo da IFPI afirma que os principais países com piratraia são Brasil, China, Taiwan, Ucrânia, Tailândia, México, Paraguai, Paquistão, Rússia e Espanha.
E para quem ainda não se deu conta que não existem “As Mais Pedidas” e que isso é apenas fruto de uma taxa que as gravadoras pagam para as rádios, é bom se informar. Difícil o jabá acabar por força de uma lei, pois existem formas de burlar a fiscalização e continuar pagando para uma música ser executada. Mas criminalizar a prática é um grande avanço e deve inibir a ação. O projeto de Lei do Deputado Fernando Ferro (PT/PE) que sugere a criminalização do jabá acaba de receber parecer favorável na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara.
Mas a própria crise na indústria fonográfica está diminuindo o impacto do jabá. Para ilustrar, uma história. A banda pernambucana Mundo Livre já tem cerca de duas décadas, mas mesmo com cinco discos gravados nunca teve suas músicas executadas nas rádios de Recife. A coisa mudou, com o dinheiro para “marketing” curto, as gravadoras ficaram sem verba para “investir” nas rádios fora do eixo Rio-São Paulo. Sem a programação imposta pelas gravadoras, os programadores ficaram com espaço livre e para ocupar estão buscando os artistas da região e os independentes. Resultado, a Mundo Livre passou a freqüentar as rádios recifenses.
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