7/30/2004

Só Jesus Salva

Sabe quando você ama uma coisa, mas com o tempo se acostuma, não dá mais tanta atenção e de repente você redescobre e se toca que aquilo é uma das coisas mais importantes de sua vida? Isso deve acontecer com todo mundo. Às vezes em relação a uma banda.
Eu sempre amei o Jesus & Mary Chain, foi uma das bandas que fez mudar minha vida, me colocar num caminho musical que nunca mais escapei (ainda bem). Mas tava ouvindo muito pouco nos últimos tempos.

Então coloco "Darklands" e redescubro algumas das canções mais lindas do rock. É o segundo disco da banda, que veio como contraponto a estréia da banda, "Psychocandy". A parede de ruídos fica de lado e os dois irmãos Reid (William e Jim) mergulham em canções singelas, doces e belas.

A música título com um solinho simples e uma melodia caprichosa já desarma qualquer coração duro. Não tem como resistir dali em diante.
"Deep One Perfect Morning" mantém o clima. "Happy When it Rains", foge um pouco do clima balada com umas guitarras mais, digamos, sujas. Mas a beleza das canções dos irmãos Reid permanece.
Se o título parece algo meio down, deprê, até dark, os versos nos mostra uma belíssima declaração de amor.

“Você era minha chuva no dia de sol/
Você era minha nuvem no céu/
Você era o mais escuro céu/
Mas dos seus lábios saíam ouro e mel/
É por isso que eu fico feliz quando chove”

Perfeito para dias de chuva.
"Down on Me", "Nine Million Rainy Days", "Fall", "Cherry Came Too" seguem a mesma linha, belas e triste canções, com letras de cortar o coração.

"April Skies" é o "hit" do disco, daquelas músicas que dá vontade de sair cantando, tocando "air guitar", montar uma banda. O CD termina com "About You", outra linda canção, que não vinha no vinil, mas tem no CD.

Um disco que você pode dar para aquela menina que você está apaixonado. No mínimo ela vai saber que seu sentimento é muito, mas muito forte por ela.

Simplesmente cai como uma luva nesses dias de frio, uma melancolia doce, um som meio tristonho, dramático, cantado com sentimento de quem acabou o relacionamento com o grande amor da vida. É estranho, uma tristeza que nos eleva, nos tira do estado letárgico e nos coloca num cima positivo, traz uma alegria, uma vontade de amar, de sentir o mesmo tipo de amor cantado docemente por William e Jim (eles se revezavam nos vocais e nas composições).

Os caras lançaram outros grandes discos, como ”Automatic” (se eu fosse baterista ia ser totalmente influenciado por aquela bateria eletrônica), ”Honeys Dead”, entre outros.

Mas como o “Darklands”, o “Stoned & Dethroned” me pegou em cheio nesses dias de chuva e frio. É uma sensação muito boa você relembrar de um discaço que você não ouve há tempos e ouvir ele várias vezes, repetidas vezes, cantando e gritando junto cada verso. Eles cantam sobre o amor, falam de Deus, fazem como poucos canções que parecem transformar sentimento em notas musicas.

A voz emocionada de Jim e William, as letras simples, mas que dizem muito, as guitarras acústicas certeiras, em levadas folk/ country, embalando as belas melodias, algumas das canções mais singelas e honestas que podem ser feitas, com o baixo preciso de Ben Lurie que dá groove especial as músicas e umas viradas marcantes. Músicas sem sobras, sem solos desnecessários, sem peripécias mirabolantes, sem arrogância, sem pretensão de soar como a invenção de algo, canções raramente ultrapassando os três minutos, curtas, urgentes, necessárias.

O que é “Never Saw it Coming”? E “Wish I Could”? E “Save me”, que Jim canta como que desesperado:

“Hey Lover
I´ve been touched by another
I guess I´m blowing my cover
I guess I´m blowing my life
Oh save me
Nothing right for me lately
I was wrong but don´t hate me
I´ve been doing it for myself”

E William descarrega um riff para esfriar o estômago, como naquela sensação quando você encontra quem você está apaixonado.

Ou ainda em “Till it Shines”:

“Come, comeand dry your eyes
And watch the mornig sun arive
Kiss´ everybody is a star
no matter who or what they are
I could tell the truth but what´s the use
It´s been abused by us

Until it shines
Till it shines
I won´t die”

Em “Sometimes Always”, Hope Sandoval, do Mazzy Star, solta a linda voz, mas nada diante do poder emotivo de Jim Reid, que tecnicamente nem deve ser dos melhores. Quem se importa com técnica mesmo? Os irmãos escoceses descobriram poucos acordes em sua trajetória, mas para que mais?

Em ”God Help Me”, Shane MacGowan, do Pogues canta a bela canção de William Reid, algo como uma oração.Quem mais escreveria isso?

“God help me through this day
God please help me through this day
I´m blind can´t see the way
God please help me throught this day

I can´t take it
I Just can´t take it anymore

I´ve been waiting longtime
I´ve been waiting longtime
I´ve been waiting too long
To see the light”

Jim e William estavam inspirados, mais uma vez,nesse disco. Melhor não me alongar tanto, ouça o disco cantando junto. Estado bruto de emoção.
O Jesus inventou uma forma própria de canção, você ouve e sabe que banda está ouvindo. Para muitos deve parecer que fazem a mesma canção, mas isso é simplesmente estilo próprio, assim como João Gilberto, Ramones, Jorge Ben, entre outros, soam como se tocassem a mesma música sempre para ouvidos menos interessados.
Jesus & Mary Chain uma das melhores bandas de todos os tempos.
Hope Sandoval, do Mazzy Star, solta a voz em “Sometimes Always”.

2 Comments:

At 10:10 PM, Blogger VERKOV said...

Belíssima descrição do que se sente ao ouvir 'Jesus...'

 
At 10:18 AM, Anonymous Anônimo said...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu

 

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