3/01/2006

O que será do Carnaval baiano depois de FatBoy Slim? Ou como provar mais uma vez que o reino do Axé está cada dia mais decadente.


Talvez não dêem a importância devida na imprensa e tenha passado despercebido pela maioria dos milhões de foliões que foram às ruas nesse Carnaval em Salvador. Mas quem viu, deve concordar, o DJ FatBoy Slim pode ter inaugurado o novo Carnaval de Salvador. Tudo bem que Daniela Mercury já tinha levado música eletrônica para o circuito carnavalesco. Tudo bem que atrações fora do mundo do axé já haviam brilhado na festa e que nesse mesmo ano um outro nome de peso do show business mundial tenha passado pelo carnaval baiano.

O porém é que ninguém fora do reino do axé comandou tão bem e arrastou uma platéia tão grande e diversa quanto o DJ inglês. Não deve ter sido o acaso que colocou alguns dos poucos bons nomes que ainda restam no Carnaval de Salvador abrindo alas para Fatboy Slim. Daniela Mercury, Armandinho (que andou criticando a presença de estrelas não baianas no Carnaval de Salvador) e Margareth Menezes. Fatboy soube aproveitar o espaço aberto e comandou como se estivesse em um show próprio. Nem parecia um gringo em terras tão fechadas a sons desconhecidos.

Acompanhado dos dos principais djs brasileiros, Patife e Marky, o inglês era sorriso de orelha a orelha desde a concentração no Farol da Barra. Vestido com uma camisa da seleção, como os outros djs, e armado com uma daquelas buzinas barulhentas de Carnaval, FatBoy provocou alguns dos melhores momentos do Carnaval baiano em anos. E não era por ser estrela internacional e um dos maiores nomes do seu ofício. A maioria ali nem sabia disso. Se dentro do bloco, um público de playboys e patricinhas se espremia achando que estava numa boate qualquer e se preocupava mais em procurar o alvo do próximo beijo, do lado de fora o folião chamado de pipoca (o que sai fora dos blocos), também espremido, entre cordas e camarotes, se largava, se esbaldava e deixava as batidas tecno guiarem as cansadas pernas já no último dia de Carnaval.

FatBoy fez o prometido, transformou o Circuito Barra Ondina numa grande rave, revezando break beats, batidas, efeitos e incluindo alguns hits no set. Com bom senso, disse que escutou Axé, mas preferiu não incluir no seu set, já que, "não é meu tipo favorito de música. Pensei que poderia incorporar alguma coisa no show, mas acho melhor deixar isso para os brasileiros e tocar o que eu faço sempre." Então tome-lhe "Groove in the Heart" do Deee Lite, "Billie Jean" de Michael Jackson, "Baby Boy", de Beyoncé, "Mas que Nada" de Jorge Ben eram alguns dos sons mais familiares para o grande público. Incluia também "Around the World" do Daft Punk, a introdução de Born Slippy do Underworld, Basement Jaxx, The Cream e clássicos pessoais, como "Righ Here Righ Now", "Praise You" e "Wonderful Night".

Se todo mundo vai repetir que FatBoy Slim fez chover, já que foi o bloco entrar na avenida para pouco depois cair uma chuva inédita na festa deste ano, estarão certos em dizer também que foi uma rave a céu aberto, uma Love Parade em pleno templo do axé. Fat Boy fez seu show particular, botando o público para aplaudir no ritmo de suas batidas, ou para girar as camisas e principalmente criando uma pista de dança.

O público mais ligado a sons como pagode e axé até que estranhou no início, mas aos poucos o que se viu foi uma junção de peles negras com a multidão de gringos que já conheciam o inglês. Um clima rave, sorrisos na cara, danças estranhas e todo mundo se soltando nas batidas eletrônicas. êxtase geral. O discurso que no Carnaval de Salvador cabe tudo nunca foi tão correto, o que talvez não se mantenha de agora em diante é que vai ser preciso sempre um cara com a capacidade de Fat Boy Slim para jogar o Carnaval para cima e mostrar que existe muito além do mais do mesmo que o Axé insiste em projetar. Viva a diversidade.



Campanha abaixo os blocos
Se cada vez mais fica a certeza da inutilidade da existência de blocos. Mais do que isso, a certeza que eles só servem para exclusão e benefício de uns poucos. A terça-feira de Carnaval estava calma, tranquila. Apertos em lugares onde os camarotes e as cordas dos blocos deixavam as pessoas comuns com a sensação de que aquelas ruas não eram públicas. Uma das resposáveis pela segurança do bloco da Skol, inclusive, dizia, sem pensar, que quem estava dentro do bloco tinha mais direito, porque tinham desenbolsado dinheiro. Bom, eles tem direito a curtir dentro das cordas, mas não dá direito de apertar nas ruas para quem paga. A rua é pública e a sugestão é que músicos, imprensa, público e quem mais se interesse se organize para mudar as regras. Abaixo as cordas, viva a liberdade de pular na rua.

21 Comments:

At 8:13 PM, Blogger mov. nac. de busca e apoi a pessoas desaparecidas said...

bom, não vi nada do carnaval de salvador, mas acho que a competição dos blocos e camarotes vai ficar mais e mais acirrada pra quem vai trazer a melhor novidade.

tomara que isso seja um real incremento na festa momesca tão propalada como diversa, mas que de democrática mesmo fique só no campo da verborragia.

quanto a baixar as cordas, o carnaval de bloco sempre foi bancado, financiado e sonegador de impostos. que fique a reflexão.

 
At 2:06 PM, Anonymous Anônimo said...

o nome da musica do dee lite é "grooves in the heart".
acho ótimo fat boy slim ter vindo, massa, mas ainda é muito pouco pra me convencer que carnaval é legal!

 
At 2:07 PM, Anonymous Anônimo said...

ahhh, fui eu quem escrevi acima

 
At 3:06 PM, Anonymous Anônimo said...

meu carnaval foi no cinema. adorei!

em tempo: o nome da música é "groove is in the heart". adooooooooooooroooooo!!!

 
At 3:09 PM, Blogger Luciano Matos said...

Miwky, acredito em tudo que é possível, sei que não é fácil, mas quem disse que seria?

Valeu Bruno, vacilo meu, pior que não sei porque veio "Air" em minha cabeça...

 
At 3:47 PM, Anonymous Anônimo said...

rapaz, esse carnaval vai ser histórico. depois de ir ao show do U2, me empolguei tanto que resolvi ir atrás do expresso 2222 na sexta, dia em que o U2 iria sair no trio... adivinha quem eu encontro no meio do caminho, atrás do trio elétrico? Messias, da brincando de deus! incrível! por essa eu não esperava!

 
At 5:58 PM, Blogger Luciano Matos said...

Messias é carnavalesco, só que nao fica divugando pro ai. Cirte Armandinho e Timbalada das antigas, assim como eu.

 
At 7:30 PM, Anonymous Anônimo said...

Não sou contra os blocos nem contra os camarotes, sou contra o tamanho deles. O carnaval de Salvador, apesar da suposta decadência que alguns vêem, criou uma estrutura razoável e que melhorou muito durante esses anos. E o Axé, por sua vez, apesar de ser repetitivo, como toda música de carnaval, conseguiu produzir seu ídolos de massa; e pra eles, meu amigo, garato, mais vale um Chicletão do que vinte Fatboys Slims.

Márcio do Vale

 
At 8:07 PM, Blogger mov. nac. de busca e apoi a pessoas desaparecidas said...

rapaz, e o prefeito que anunciou que não haverá 4º circuito?? se fodeu, pois na próxima era carlista, acm fará.

carnaval de bairro não funcionaria aqui nem se michael jackson e madonna fossem atrações em periperi e em águas claras.

 
At 8:15 PM, Anonymous Anônimo said...

Estava no bloco e posso dizer q foi historico. Ja sai em outros blocos e posso dizer que esse foi o mais animado de todos. Sim, estava cheio de patricinhas e mauricinhos, mas ate esses pulavam. Foi insano! E o abada do Skol subiu a precos exorbitantes, imaginem que me ofereceram 500 contos, cash, por ele. Nao vendi e nao me arrependo. Do caralho, espero que ano que vem venham outras atracoes off-axe.
Leo Maia

 
At 3:59 AM, Blogger Claudia Pinelli® said...

O carnaval de Salvador não é tão divulgado e vendido lá fora??
Atualmente não se mantém até mais interesse nesse público alvo($$$$$) do que em nós, simples autóctones??
Nada mais natural, portanto, convidar celebridades também internacionais como Bono, Fatboy Slim, Tati Quebra-Barraco, rs...
Ah, o carnaval de Salvador foi massa, vai..
Daniela Mercury parou de cantar duas vezes por causa dos ringues de boxes criados embaixo do trio, precisou parar uma outra, pq um cara tomou um soco tão fdp na cara que começou a ter convulsão e ela gritava por um médico ou ambulância.. Depois foi a vez de Carlito Marron(Sem patrocínio.. Sem patrocínio??? Sim... )detonar a galera, dizendo que enqto o povo estiver na ignorância, o carnaval será sempre assim, violento.. Pude ver tudo isso de camarote, na esperança de ver Armandinho, Dodô e Osmar, algo q só aconteceu uma vez e rapidinho, mas q valeu a pena, sempre vale... No camarote de meu sofá, deixo claro, nos intervalos de outras formas mais prazerosas de diversão.
P terminar, mesmo tendo preferido ficar em casa para ver meus dvds novos, pôr a leitura em dia e dormir até o c.. fazer bico, como uma boa e típica baiana faz na época de carnaval, acho muito legal q Bono, Fatboy Slim e quem mais queira vir, venham p Salvador, cantem, participem, se divirtam, e façam c que os picões da "indústria cultural axé-pagodeira" percebam que isso é um sinal de que o carnaval não se faz mais apenas c esses ritmos... Q há o outro lado da internacionalização dessa festa.. Muitos gringos vêm para curtir, trazer o dindim, mas a diversidade cultural oriunda deles certamente virá no vácuo, of course..
E para o povo daqui, fica a reflexão: depois dos 7 dias de folia, curtição e loucura total, as fantasias serão guardadas, a maquiagem retirada e a vida volta p sua realidade nua e crua de sempre. Acorda, rapá!!!!
Desculpe a forte dose de pessimismo, mas a idade tem me deixado assim..rs...
Bjk.

 
At 4:12 AM, Blogger Claudia Pinelli® said...

Ah..
Agora sobre o protesto Abaixo os blocos!!!??? Como assim?? Isso sim é uma utopia impossível, vamos encarar...
Abaixo as cordas, né??? O que não deixa de ser meio complicado tb, dentro de uma estrutura senhor/escravo, homem de bem/marginal que vem ainda até hj, mas q é mais coerente como ponto de partida para uma luta de democratização do carnaval de Salvador.
Concordo plenamente com esse ponto de vista e do q precisar de mim, estamos aí p ajudar..
Chega de gente que pode pagar, ter privilégios de espaço em ruas que são de todos, e estou me referindo às cordas q limitam horizontalmente esse trânsito e os camarotes q fazem o mesmo papel só q na vertical, mas q ainda assim diminuem o espaço físico das avenidas e ruas destinadas aos circuitos da festa... Isso é, no mínimo, uma violência ao direito de ir e vir do cidadão comum..
E tenho dito.. :oP
Bjo.

 
At 10:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Venha cá, alguém entendeu porque Fatboy Slim não tocou The Rockafeller Skank? A música mais famosa do cara ficou de fora. Pode parecer até cool, mas fez falta.
Leo Maia

 
At 10:46 AM, Anonymous Anônimo said...

cordas, blocos, camarotes ....é uma questão tão complicada que dá prá teses e teses...a questão é difícil e reproduz a estrutura social que vivemos todos os dias: a salvador linda e iluminada X a salvador suja e ‘opaca’ ...como dizia o baiano Milton Santos. As cordas/camarotes são barreiras físicas e também invisíveis, que separam nossos mundos. E tudo isso pra gerar lucro, cada vez maior, é o grande negócio...Cultura é negócio??? É produto ???? Bom....se não dá pra fazer revolução( pelo menos a curto prazo) ..que tal um negócio menos selvagem???? Com respeito ao direito do outro...com a noção de espaço público...que não pode ser privatizado...que a rua é nossa e o Carnaval uma celebração de uma cultura diversa e misturada, a inversão legitimada pelo modo de vida que a gente vem reinventando até agora....
Sim. Viva a diversidade ! E a indignação com movimento... que é o que faz as coisas mudarem!

 
At 11:20 AM, Anonymous Anônimo said...

O bloco com o fatboy slim foi o melhor que ja sai em minha vida! Em meio aos citados mauricinhos e patricinhas, haviam inumeros fas de musica eletronica, principalmente drum n´bass, que viveram uma experiencia unica!
Outra coisa, na minha opiniao quem mandou mesmo ver foi o Marky, o melhor do Brasil (de drum n bass).
Fatboy é um nada perto dele, apesar do maior reconhecimento.
Agora resta a esperança de carnavais melhores daqui pra frente
=]

 
At 3:15 PM, Blogger Franchico said...

Com Fatboy ou sem Fatboy (que deve ter sido legal, ok), tudo ainda me parece muito patético. Para mim, o carnaval baiano não tem mais jeito. Já foi roubado do povo, que tem que se contentar em ser espremido entre as cordas e os camarotes e catar latinha. A axé music, seus empresários, diretores de bloco e a indústria do abadá mataram o carnaval baiano. R.I.P.

 
At 3:17 PM, Blogger Franchico said...

Ah. E aquele chilique de Carlinhos Brown em cima do trio foi a cereja do bolo, desde já, um momento clássico da típica demagogia baiana. E depois ainda pediu desculpa pro patrão ministro Gil, que balançava a cabeça magnanimamente. Bomba H no circuito Barra Ondina, pelamordedeus...

 
At 6:05 PM, Anonymous Anônimo said...

Carnaval PRA MIM não dá, nem com Fat Boy Slim!
E Luciano, o show do Los Hermanos vai ser no Othon!

 
At 7:25 PM, Blogger Luciano Matos said...

Ia ser no Othon, eu que tinha informado para algumas pessoas, mas o produtor me confirmou, vai ser na Concha.

Quanto ao Carnaval. Acho que ao menos blocos menores, com mai slimitação de ocupação nas ruas é bem viável

 
At 4:46 PM, Anonymous Anônimo said...

bem, falando de fatboy slim, ele pode ser até bom, gosto de musica eletronica, mas,não tem nada melhor que um axé e pagode no carnaval! eu acredito se botar 1.000 (fatboy slim) não se compara a 1 chiclete! então galer quem é que a rasta a muvuca é o (chicletão) ainda deixo uma musica para vcs verem (eu fui atraz do caminhão, fazer meu cornaval, e o cranaval é feito do coração, gostei chiclete é emoção, meu bem naquele ano eu me tornei camaleão) axé sempre sera a banda do povão! se vc é chicleteiro de te abençou, se vc não é Deus te perdoa! P/ QUEM TEM RAIVA DO AXÉ, EU SÓ LAMENTO! PQ AXÉ É CARNAVAL!
ME DESCULPE POR SER BRUTAL É OPERANTE, COMO QUEM NÃO É CHICHETEIRO!
ABRIGADO A TODOS......
FUI

 
At 6:42 PM, Anonymous Anônimo said...

nossa, enquanto a fatboy slim, eles tocam umas musicas bacana, mas, sinceramente não tem como comparar fatboy slim com nenhuma banda de afoxé, axe ou pagode, carnaval está envolvido a esses tipos de musicas! então nós baianos enxergamos isso bem diferente de qualquer outro estado do brasil, não adianta falar que fatboy slim foi a sensação do carnaval, que não foi, e nunca vai ser! gosto até de fatboy slim mas, eu seria ignorante discurtir sobre isso, estilos de musicas diferente, então as portas estaram abertas p/fatboy slim, de uma coisa vcs podem ter certeza, que fatboy slim nunca vai ser a sensação do carnaval, tem uma banda que eu gosto muito que é a sensação do carnaval, que se chama ( chiclete) essa sempre foi e sempre sera a sensação do carnaval, sem discursão na moral galera (chiclete é chiclete) e outra,saio em uma banda que nãotem nada a ver com chichite, mas é minha bamda preferida. eu tambem gosto muito do afoxé , pq eu saio de (filhos de gandhy) gosto muito musica afro brasileira! então é isso ai galera, fica com Deus e até o proximo carnaval 2.008 e eu como sempre de (filhos de gandhy)
até lá galera...... e viva o carnaval que isso que é importante!!
fui!

 

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