10/18/2004

Uma banda estupenda, arranjos hiper criativos, melodias marcantes, belas e instigantes letras, um guitarrista personalíssimo, uma cozinha mais do que certeira e competente. Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta tem feito alguns dos melhores shows já realizados nessa cidade, sem dúvidas. Essa semana fizeram dois deles, shows acachapantes, irretocáveis, vibrantes e com uma emoção tocante. O público já canta junto boa parte das canções. Como se estivessem numa grande arena, cantam emocionados, com a alma, da mesma forma que Ronei Jorge, o homem responsável pelas composições e por orquestrar toda aquela obra musical. Quem não conhecia aquelas músicas ficava a imaginar o quanto eram belas e deliciosas e porque não conheciam aquilo antes. Porque aquilo era ainda desconhecido?

As versões são, na verdade, leituras novas e incrivelmente criativas de clássicos. Tanto "Paralelas" (Belchior) quanto "Me Deixe em Paz" (Monsueto) ganham uma nova alma, uma nova dimensão. Músicas como "Sete-Sete", "A Dois", "Obediência", "Circo", "O Drama", "Daikiri", "Um Lugar Qualquer", entre outras, que trazem influências não tão óbvias, mas que remetem ao melhor que se pode imaginar de rock e música brasileira. Oferecem a sensação ao ouvinte de estar diante de algo não apenas divertido e bem feito, mas de obras que vão muito além disso, daqueles que permanecerão, não importa o futuro, não importa quem vá ouvir, não importa o que vá acontecer de agora em diante.

Sim, estou procurando adjetivos para colocar aqui. Sinceramente, é um desperdício para a música brasileira se o trabalho de Ronei e seus comparsas ficar reduzido para um publico local. Ronei Jorge nasceu não para simplesmente ter uma banda, envelhecer e lembrar de uma fase da vida se divertindo com rock. Ele nasceu para fazer música, de uma qualidade não tão comum, infelizmente, com uma sensibilidade não vista a todo momento. Naceu para se tornar um daqueles nomes que tornam combinação de acordes em belas canções e a simples junção de letras e palavras em obras de grande valor. Chega de Saudade!!! Temos aqui (mais) um grande nome da música feita num país ricamente musical como o Brasil. Um nome novo, que merece não apenas pelo que ele produz e cria, mas pela qualidade que não deve permanecer restrito a um circuito tão pequeno. Não se pode perder uma chance de perpetuar uma música de tal alta qualidade. Abram alas para o novo.